Choramos, sofremos, mas graças a Deus, nós conseguimos trazer a nossa filha de volta para casa
“Sim, sentimos muito medo, mas uma confiança de que tudo daria certo. Choramos, sofremos, mas graças a Deus, nós conseguimos trazer a nossa filha de volta para casa”, conta a professora Katia Regina Moura de Castro, de 39 anos. Ela e o marido, o advogado Cleber Paulino de Castro, de 45 anos, passaram por um susto no ano passado, a filha, a Maria Helena Moura de Castro, de 8 anos, teve 24% do corpo queimado com queimaduras de segundo e terceiro graus.
O acidente ocorreu no dia 5 de novembro de 2022. Katia fala que foi com o marido e a filha numa festa de casamento. Assim que os garçons avisaram que as entradas do buffet estavam sendo servidas, ela e a cunhada, que também estava na festa, foram servir para as filhas.
Logo depois, o esposo se levantou e disse que iria à mesa de frios. Passou mais um tempo, a pequena Maria Helena foi a cunhada de Kátia se servir, foi quando ocorreu o acidente. Segundo Kátia, o esposo ainda não havia retornado. Quando ele aguardava para se servir na mesa de frios, ouviu uma criança pedindo socorro próximo a mesa de comidas quentes, não imaginava que seria a própria filha.
“Meu marido levantou a cabeça e viu a criança com fogo na barriga e a moça do buffet abanando o fogo, que imediatamente subiu e cobriu todo o tórax. Um senhor usando o próprio blazer abafou o fogo na menina. Quando meu esposo chegou próximo viu que era nossa filha”, detalha a professora.
Segundo a filha contou à mãe, ela havia ido até a mesa de comidas quentes buscar escondidinho, mas não encontrou. Então foi servir outro prato, ao pegá-lo o fogo do rechaud, uma espécie de fogareiro de metal atingiu o vestido. “Ela não se debruçou na mesa porque todas as travessas estavam na beirada. Pergunto-me se esse fogo era para manter o alimento quente ou para cozinhar o alimento?”, questiona a professora.
Após ver o tumulto, Kátia se aproximou para ver o que havia acontecido, ela fala que a cena foi desesperadora. Os dois levaram a pequena no próprio carro para o hospital, além do desespero, passaram pela dificuldade em encontrar pediatras que atendessem a filha.
Eles passaram por dois hospitais, além da demora no atendimento, o casal teve que lidar com a falha no diagnóstico. Os médicos alegavam que o caso da menina não era grave e que não precisava de transferência para um hospital especializado em queimados.
Maria Helena teve 24% do corpo queimado com ferimentos de segundo e terceiro graus. As chamas atingiram o pescoço da criança, as vias respiratórias e o pulmão. “Se tivéssemos acatado o quadro inicial, não gostaríamos de pensar o que teria acontecido”, desabafa Kátia.
A parte psicológica é hoje a nossa maior batalha, por ela ter medo de tudo e está muito ansiosa
A mãe fala que conseguiu a transferência da filha para a Santa Casa no dia seguinte. A pequena ficou 73 dias internada, passou por 3 cirurgias, sendo 2 desbridamentos e uma de enxerto de pele. A cicatrização demorou 5 meses para fechar totalmente. “A parte psicológica é hoje a nossa maior batalha, por ela ter medo de tudo e está muito ansiosa, mas estamos tratando”. Conclui.
Em junho é promovida pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) a campanha Junho Laranja, a ideia é alertar sobre os riscos e informar sobre a prevenção a esses acidentes. Segundo a associação, há cerca de 150 mil internações anuais causadas por acidentes desse tipo no Brasil, sendo que 30% dos casos são de crianças, mais vulneráveis a acidentes domésticos.
Para ela, o acidente foi consequência de uma sucessão de erros, isso porque, segundo ela, utilizaram álcool combustível para deixar os rechaud’s acesos. Tinha muitos deles sobre a mesma mesa, o que fazia com que o fogo chegasse até a borda. Além disso, a funcionária que abandonou o fogo inicial não tinha preparo.
Nossa luta, agora, será para que haja legislação que defina como utilizar rechaud para que situações como essa não se repitam
A professora fala que solicitou ao Corpo de Bombeiros palestras sobre acidentes domésticos e queimaduras. Além disso, encaminhou solicitação de projeto de lei sobre o tema a dois Deputados Federais. “Nossa luta, agora, será para que haja legislação que defina como utilizar rechaud para que situações como essa não se repitam", detalha.
A rotina da família mudou muito após o acidente, todos são acompanhados por psicólogos e psiquiatras. Ela conta que até o momento ninguém do Espaço que organizava a festa entrou em contato para sequer saber o estado de saúde da Maria Helena.
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O que fazer em caso de queimadura
Primeiramente, deve-se lavar o local com água corrente por até 15 minutos. Em caso de acidente com produtos químicos, é indicado limpar a área e retirar todo o produto antes de lavar. Não é recomendado estourar bolhas, ou usar pomadas, creme dental, clara de ovo, café e outras receitas caseiras.
Caso necessite de socorro, o paciente deve procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde) ou serviço de urgência. Em situações mais graves, deve-se acionar o Samu pelo telefone 192 e seguir as instruções até a chegada da ambulância.
Acervo pessoal

Recadinhos das professoras, direção e amigos, e até crianças do outro período que não conheciam a Maria
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