Quando cheguei ele já tinha cometido o ato
“Foi quando a gente teve uma discussão. Eu falei para ele que tinha que ter calma, na sequência saí para buscar comida. Quando cheguei ele já tinha cometido o ato”, recorda a mãe. É com esse relato que iniciamos a história Lucyana, ela vive o luto de perder um filho aos 16 anos pelo suicídio.
Lucyana Ocampos Cabral é funcionária pública ela fala que sempre teve no fiho Davi um companheiro. Mãe solo, fala que o menino era seu parceiro de cinema, restaurantes, passeios, era alegre, sorridente, mas tudo começou a mudar com o passar dos anos.
Davi sempre sentiu a falta do pai que mora no Rio Grande do Sul, era na presença dos avós que encontrava parte do o amor paterno. Aos 7 anos de idade o menino começou a tratar o Transtorno de Déficit de Atenção - TDH e hiperatividade. No mesmo ano, a avó faleceu, essa perda o fez entrar em depressão, relembra a mãe.
Lucyana fala que o filho começou a tratar a doença com medicamentos e terapias até tudo mudar na adolescência. Aos 13 anos ele conheceu as drogas e por isso substituiu o tratamento pela maconha, a convivência em casa começou a ficar difícil lembra a mãe.
Ela fala que além dos cuidados com Davi, tinha que se desdobrar com as tarefas de casa. O pai dela morava com ela e tratava um efizema pulmonar. No ano passado o pai dela e avô piorou de saúde e precisou ser internado. “No dia 14 de maio meu pai deu entrada no hospital e no outro dia já foi entubado num processo de infecção atrás de infecção”, completa.
Falou para mim que havia perdido mais que um vô, um pai, o melhor amigo
O pai dela lutou pela vida, mas não resistiu vindo a óbito em 9 de julho de 2022. A morte do avô teria abalado muito o jovem que tinha esperanças que ele voltasse para casa. “Quando meu pai morreu ele ficou perdido, falou para mim que havia perdido mais que um vô, um pai, o melhor amigo”, completa.
A Lucyana fala que a partir desse momento o filho entrou numa profunda tristeza, chegou a abandonar as drogas, mas não via mais vontade de fazer as coisas. Esse misto de abstinência, tristeza pela morte do avô, de não ter conseguido dar-lhe um último abraço, surtou três dias após a morte do avô.
Vocês podem parar o meu filho não está aqui mais
“Lembro-me de que comecei a gritar, liguei para minha irmã, fiz massagem cardíaca, respiração boca a boca e nada. Eu senti a hora que meu filho partiu. Eu falei para a equipe que estava atendendo ele: Vocês podem parar o meu filho não está aqui mais”, detalhou.
Lucyana fala que a culpa é um sentimento que toda mulher carrega assim que se torna mãe, por isso seria inevitável não sentir culpa pela morte do filho. Por que não saí para comprar comida? Por que não respirei com tanta força para acordá-lo? Por muitos meses ela carregou a dor dos por quês, no entanto agora não é mais refém disso.
O silêncio acaba sendo ensurdecedor
Ela fala que todos os dias é uma luta, mas que também tenta ressignificar sua história, entender que é humana, que é mãe, que cansa e que não tem controle de tudo. “Minha casa tinha cinco pessoas, hoje tem três. Os dois mais barulhentos que era o Davi e meu pai, eles não estão mais comigo, o silêncio acaba sendo ensurdecedor”, enfatiza.
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A dor da saudade a acompanha, para amenizar ela faz tratamento médico e terapias, já chegou a participar de um grupo de apoio, mas não se identificou. Atualmente ela conta com uma rede de apoio com vizinhos, médicos que viraram amigos, amigos novos e recentes e seguindo assim, nessa caminhada, quer ficar forte para ajudar outras pessoas.
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