Uma maneira de evitar que tragédias se repitam é criar mecanismos para que elas sejam lembradas sempre. A arte é uma forma de instaurar esse procedimento. É o que acontece com a exposição “Mariana”, de Christian Cravo, que retratou o que restou da cidade após o rompimento da barragem do Fundão, em 2015.
Unesp

Oscar D'Ambrosio
Foram 19 mortes e centenas de famílias desabrigadas que perderam tudo. A lama cobriu casas e esperanças. E as imagens mostram o tom ocre que passa a se relacionar com objetos do cotidiano, como imagens religiosas, sofás na sala, janelas, paredes, roupas, escovas de dente no armário do banheiro e fotografias de pessoas. Enfim, vidas ficaram submersas.
São essa vidas e memórias que as imagens do fotógrafo trazem à tona. Ele ficou três dias no local e a exposição, que permanece no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, até 27/10/2019, consegue lidar com a tragédia de maneira poética, seja nas imagens, seja nos delicados e concisos títulos escolhidos para cada foto.
Não se trata de dar glamour o sofrimento, mas de realizar uma documentação lírica da dor. E essa escolha visual funciona coo um grito, um alerta para construir um futuro melhor. Existe nas fotografias dessa série de Christian Cravo uma voz engasgada na lama. Cada imagem parece querer falar, mas a lama impede, interrompe o discurso que antes existia naquelas residências. É essa dor que elas transmitem pelo impacto visual que causam.
*Oscar D’Ambrosio
Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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