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Opinião Sábado, 07 de Junho de 2025, 10:52 - A | A

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Opinião

Felicidade é uma convocação

Por Percival Puggina*

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Sim, felicidade é uma convocação natural a todo ser humano. Todo mundo quer. É a mercadoria com maior clientela. Por felicidade, entra-se em fila de espera, se preciso for. No entanto, o maior equívoco daqueles que a buscam consiste em confundir felicidade com satisfação. Tenho certeza de que colocados, assim, lado a lado, os dois vocábulos – “satisfação” e “felicidade” –, salta aos olhos que seus conceitos são diferentes. Na vida prática, contudo, a confusão é permanente, é regra geral, com raras exceções.

Então, vejamos. “Satisfação” é o estado de espírito de quem desfruta de algo atraente aos sentidos: a música que nos agrada, o perfume certo, um pôr-do-sol sobre as águas, o prato predileto, o toque da pessoa amada. Há uma clara relação, pois, entre “satisfação” e um ou outro de nossos cinco sentidos, de modo que tal estado de espírito se relaciona diretamente com nossos instintos e gostos pessoais.

“Felicidade”, por seu turno, é o estado de espírito de quem encontrou o Bem. Não apenas uma “coisa boa”, mas “o” Bem. Refere-se a algo muito mais permanente do que a satisfação, que esta vale tanto quanto dura. O Bem, assim, com maiúscula, é substantivo ao passo que a palavra “bom” é usada, habitualmente, como adjetivo atribuído a algo.

Ora, todos somos igualmente vocacionados para a felicidade e para a felicidade eterna. Felicidade que não se projeta para a eternidade, felicidade que admite um horizonte final logo ali, não é felicidade verdadeira. Portanto, a felicidade só pode estar na eternidade de Deus ou, mais precisamente, no próprio Deus. Nas coisas que passam, se gastam ou são roídas pelas traças, jamais estará a felicidade, mas a mera satisfação; onde estiver a felicidade a satisfação perde muito de seu relevo.

O que torna especialmente difícil, na vida prática, perceber os desvios a que nos conduz a confusão entre felicidade e satisfação é a carga publicitária imposta pela natureza comercial dos meios de comunicação. Toda essa carga está empenhada em nos convencer de que seremos felizes consumindo ou fazendo “coisas boas”. E nunca interessada em indicar o Bem. Não raro, como se identificassem, nele, uma concorrência invisível, certos meios de comunicação tratam de firmar a confusão conceitual ridicularizando o Bem em suas manifestações. As conseqüências vitais a que ficamos expostos criam verdadeiro desvio de vocação (ou de função) pela vida afora, empurrando-nos a só buscar coisas boas, não raro em detrimento, aqui e agora, do eterno Bem.

Por isso, é importante que tenhamos vida além dos muros da comunicação social, com tempo para atividades que elevem o espírito, para convívio afetivo e cultivo das virtudes – fé, esperança e caridade – que estas conduzem ao Bem e, portanto, à felicidade. Ao menos, é assim que penso e sinto.


*Percival Puggina (80)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

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