Vivemos numa sociedade onde quase tudo se tornou relativo. Os padrões morais que antes norteavam a convivência social foram dissolvidos por uma enxurrada de valores líquidos, onde o individualismo extremo e o egoísmo tomaram o lugar da retidão. O que antes era visto como princípio inegociável, hoje é apenas uma questão de opinião. A ausência de fundamentos objetivos para a moralidade nos trouxe para uma realidade onde cada um escolhe aquilo que lhe convém, como se o bem e o mal fossem construções subjetivas ajustáveis à vontade pessoal.
Consequentemente , essa mentalidade abriu espaço para que a corrupção deixasse de ser uma exceção para se tornar quase uma regra obrigatória e passasse a integrar a rotina das instituições. Quando leis deixam de ser cumpridas por atingirem pessoas “importantes”, quando valores são escarnecidos por aqueles que deveriam zelar por eles, percebemos que a raiz de nossas mazelas está, essencialmente, na deterioração do caráter humano. A crise de integridade não é apenas mais uma entre tantas; ela é a origem silenciosa de todas as outras.
O “sistema”, muitas vezes apontado pela grande maioria das pessoas como o grande vilão, nada mais é do que o reflexo das pessoas que o compõem. O político corrupto, o empresário desonesto, o cidadão que burla pequenas regras — todos participam do mesmo ciclo de decadência. A corrupção não nasce do sistema, mas do interior do homem. Ela nasce no interior de cada um de nós. E o homem pós-moderno, desprovido de princípios sólidos, tornou-se presa fácil da cultura do levar vantagem em tudo, mesmo às custas do outro e do bem comum.
A mídia, por sua vez, cumpre um papel decisivo nesse processo. Ela molda os desejos, fabrica os valores e define os “certos” e os “errados” segundo os interesses de algum grupo dominante. As pessoas, incapazes de resistirem com firmeza em sua individualidade, acabam por adotar modelos pré-fabricados, assimilando sem perceber princípios instáveis, corrompidos desde a sua origem. O resultado é uma sociedade moldável, sem resistência, sem forma própria — uma modernidade líquida onde nada é feito para durar, como nos diz Zygmunt Bauman.
Nesse contexto, só nos resta uma escolha: continuar aceitando a decadência como normalidade ou lutar contra ela com as armas que ainda nos restam — integridade, retidão, justiça. Mas, para isso, será necessário um esforço coletivo e profundo de revisão dos nossos valores. Precisamos resgatar a importância das regras morais que antes sustentavam a comunidade e nos protegiam do caos. Uma sociedade sem padrão aceito por todos não é uma comunidade, é uma multidão desorganizada à beira do colapso.
Se quisermos mudar a situação e a sociedade na qual vivemos e estamos inseridos, devemos começar por dentro. Nunca poderemos esperar que os sistemas sejam íntegros se a matéria-prima que os compõe — o ser humano — não o for. A crise de integridade é, antes de tudo, uma crise de caráter, e sua superação exige um retorno urgente aos princípios que dão sentido à convivência humana. Somente quando a integridade deixar de ser exceção e voltar a ser norma é que poderemos vislumbrar uma sociedade verdadeiramente justa e, com isso, um futuro melhor para nosso país e, consequentemente, para todos nós.
*Wanderson R. Monteiro
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
Autor de São Sebastião do Anta – MG
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