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ENTREVISTA Sábado, 30 de Outubro de 2010, 08:00 - A | A

Sábado, 30 de Outubro de 2010, 08h:00 - A | A

Justiça tem que ser rápida nos casos das vítimas de erros médicos, diz presidente de associação

Chico Junior - Capital News

A equipe do Capital News tem como convidado para a "Reportagem Especial" o fundador e presidente da AVEM (Associação das Vítimas de Erros Médicos), Valdemar Moraes. Na entrevista, ele explica o papel da associação e dá dicas para as pessoas de como proceder em caso de ser vítima de erro médico.

De acordo com Valdemar, a entidade foi criada em 3 de junho de 2007 depois que seu irmão morreu em virtude de um erro médico. “Ele sentia uma dor na perna e morreu quando fez uma cirurgia. Eu quis fazer justiça, a maneira que encontrei foi criar a associação”, afirmou.

Atualmente, a AVEM cuida de 300 denúncias em todo o Estado. Dos casos tratados pela associação, os que mais chamaram a atenção da imprensa e da sociedade foi o da menina Rita Ribeiro, que ao passar por um procedimento cirúrgico perdeu todos os movimentos do corpo, e o das 10 mulheres que se submeteram a cirurgias plásticas com o médico Alexsandro de Souza e tiveram o corpo deformado. Confira:

Capital News – Como surgiu a associação das Vítimas de Erro Médico?

VM – Ela surgiu a partir do momento que eu perdi um irmão na família e eu queria justiça. Aí surgiu a oportunidade de eu pesquisar se existia uma entidade que defende as pessoas vítimas de erros médicos, porque no CRM não adiantaria nada, ficaria na impunidade. Então, resolvi fundar essa entidade com muito custo e no dia 3 de junho de 2007, consegui fazer três reuniões e na terceira montei a diretoria. Posso mostrar para Mato Grosso do Sul que existe uma entidade que pode defender os direitos das vítimas de erros médicos. No nosso procedimento fazemos um laudo, através dos médicos, para podermos mostrar para a justiça que houve um erro médico.

Capital News – O senhor esperava perder alguém na família vítima de erro médico?

VM – Perdi um irmão de 53 anos que faleceu no hospital e através dessa negligência do médico e do hospital eu pude fundar essa entidade. Ele estava com uma dor na batata da perna e foi fazer o tratamento dessa dor, ele estava em condições de falar, normal. Ele entrou no hospital para fazer uma pequena cirurgia, que não tinha risco de morte, foi quando veio a fatalidade do meu irmão. Foi devido a ele que eu fundei essa entidade. Aqui nós fazemos um trabalho de transparência com o Ministério Público Estadual e Federal, com a comissão de Direitos Humanos e com a imprensa.

Capital News – Quais os erros mais comuns dos médicos?

VM – Cada caso é um caso. Em Mato Grosso do Sul o que mais choca a entidade são os casos de ginecologia.

Capital News – O que a pessoa deve fazer se for vítima de erro médico?

VM – Ela tem que procurar a associação das vítimas de erros médicos para que a gente possa fazer os pedidos dos prontuários. Nós analisamos se realmente ouve erro médico ou não, porque, às vezes, não é apenas uma questão de erro; é uma fatalidade. Eu peço que as pessoas procurem a associação não querendo denegrir a imagens dos advogados, mas a entidade tem meios para poder descobrir se realmente ouve erro médico.

Capital News – Quantos casos a associação está cuidando atualmente?

VM - Em todo o Estado são 300 erros médicos e tem algumas pessoas procurando a associação com processos correndo por fora da entidade e quer passar para a nós. Nestes casos, analisamos a situação porque quando você começa um trabalho dentro da entidade, você sabe o que está fazendo e fica complicado pegar um caso que já está em andamento na justiça. Tem casos em que o advogado ainda nem pediu tutela antecipada, situação que já deveria ter pedido. Então, a gente analisa esse processo e decidimos se a entidade vai pegar o processo ou não.

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Presidente mostra, na parede, matérias publicadas em jornais impressos com casos que a AVEM acompanhou.
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – Existe uma maneira das pessoas evitarem ser vítimas de erros médicos?

VM – Eu acho que a pessoa quando vai fazer uma cirurgia, um exame, deve pedir orientação para dois médicos. Já aconteceu comigo, eu fui ao médico e ele falou “você tem isso”, aí fui em outro médico e este disse que eu tinha outra coisa, ficou na contradição. Acho que as pessoas tem que fazer dois exames, por exemplo, antes de fazer uma cirurgia para saber se realmente precisa daquele procedimento é necessário a pessoa passar por dois médicos para ter a certeza.

Capital News – Qual ou quais os hospitais em que mais ocorrem erros médicos em Mato Grosso do Sul?

VM – O Hospital Universitário e a Maternidade Candido Mariano, que é campeã em vítimas de erros médicos. Nesses locais ocorre muita negligência médica e jamais eles irão falar que ouve erro médico.

Capital News – Quantos processos a associação já ganhou na justiça?

VM – Para se ter resultado nestes casos demora de 5 a 10 anos. Nós não temos estimativas de quantos processos ganhamos, por que é cedo para falarmos já que os processos ainda estão correndo nos juizados. A entidade é nova, tem apenas três anos, então fica difícil falar de quantos processos a gente ganhou.

Capital News – Se comprovado o erro médico, quanto tempo demora para a pessoa ser indenizada?

VM – A questão do erro médico tem que ser o mais rápido possível resolvido pela justiça, não adianta ficar apenas com tutela antecipada. A sequela tanto dela quanto da família fica por muito tempo, eu me preocupo muito com isso. Quando o médico comete um erro médico ele tem que ser punido por cinco anos. Hoje, o CRM demora cinco anos para condenar um médico que teve uma conduta errada. Então isso é um absurdo, uma aberração e acho que isso tem que ser mudado.

Capital News – Qual o perfil das pessoas que procuram a associação?

VM – Essas pessoas chegam aqui com seqüelas psicológicas muito grandes, chegam chorando. Muitas vezes eu não aguento e acabo chorando junto. Veja o caso da Rita (foi vítima de erro médico quando passou por um procedimento cirúrgico no Hospital Universitário e perdeu todos os movimentos do corpo), uma menina tão bonita e acaba numa situação dessa, não tem como a gente não ficar emocionado. O papel da associação é lutar pelas vítimas de erros médicos. Nós, muitas vezes, temos que ser presidente da associação, psicólogo, conselheiro das famílias, porque elas se sentem seguras dentro da entidade. Isso é importante para mim, a confiança da família que procura a entidade. Eu me sinto fortalecido para continuar trabalhando por essa causa.

Capital News – Que suporte a associação oferece para as vítimas de erros médicos?

VM – Nós oferecemos o suporte jurídico. Os advogados que a cuidam dos casos da associação são particulares. Gostaria de deixar bem claro que a entidade não tem fundos para manter um advogado 24 horas em função da associação. Nós somos uma entidade sem fins lucrativos. Nós dependemos de doação. As pessoas podem se associar a entidade. Nós somos uma entidade séria que leva as autoridades o que acontece em Mato Grosso do Sul.

Capital News – Qual o balanço que o senhor faz dos três anos da associação?

VM – É uma vitória para Mato Grosso do Sul. Fazemos na verdade um trabalho social. Com relação ao estatuto do idoso, a questão do pedido de remédios a gente também encaminha. É importante que as pessoas procurem a entidade. Isso é uma vitória do povo de Mato Grosso do Sul que tem uma entidade que os representa.

Capital News – Quem quiser ajudar a associação pode fazer o que?

VM – Nós estamos precisando de computador, máquina de xerox. Quem quiser doar dois, três reais, não é muito, mas nós precisamos manter a entidade. Estamos nos mantendo com a realização de eventos, churrascos. Mas, não é fácil manter uma entidade em Mato Grosso do Sul. É uma responsabilidade muito grande. Eu procuro ser transparente nas atitudes que faço frente à entidade e levo tudo ao conhecimento das autoridades. Só lembrando que o endereço da AVEM é rua Braz Cuba, 280, Vila Carvalho, em Campo Grande. O telefone de contato é o (67) 3362-1375.

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A associação tem pouca estrutura e presidente diz que toda ajuda é bem vinda.
Foto: Deurico/Capital News


Por Chico Junior - Capital News

 

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