Leonardo Merçon e Hei Nascimento

Para alertar mortes nas estradas, carcaças amanhecem na sede do DNIT
Em busca de alertar para as mortes nas estradas, carcaça amanhecem na frente da sede do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Campo Grande. A ação tem como objetivo chamar atenção do número elevado de acidentes nas rodovias do pantanal sul-mato-grossense.
A BR-262, trecho que atravessa o Pantanal e conecta Aquidauana a Corumbá, tem sido apelidada de "estrada da morte para a fauna" devido ao alto número de acidentes envolvendo animais. Essa triste realidade não é desconhecida, sendo abordada em matérias nacionais e internacionais. Recentemente, dois casos de onças-pintadas atropeladas na região próxima a Corumbá chamaram a atenção para essa problemática. Isso mesmo durante a alta publicidade para o Pantanal, com duas novelas da rede Globo sendo ambientadas em MS, Pantanal e Terra e Paixão.
"O Dnit já tem um plano de mitigação pronto, só precisa de vontade política para fazer o negócio acontecer. Esse estudo aponta os pontos da estrada onde há mais vulnerabilidade para acontecer atropelamentos. As pesquisas e a solução já estão apresentadas", destacou o biólogo Gustavo Figueroa, da SOS Pantanal, entidade que faz parte do movimento "Estradas seguras para todos", que também conta com a participação do coletivo Estrada Segura e Fridays for Future.
Leonardo Merçon e Hei Nascimento
Para alertar mortes nas estradas, carcaças amanhecem na sede do DNIT
O superintendente do DNIT-MS, Euro Nunes Varanis Junior, respondeu aos questionamentos a respeito do protesto dizendo que aguarda o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) responder se o plano de mitigação e preservação que o Departamento tem está em condições de ser cumprido.
Entenda o caso
Entre 2017 e 2020, o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) realizou estudos aprofundados, revelando resultados alarmantes. Durante esse período, foram registrados cerca de 6.500 animais mortos na BR-262, sendo 316 de espécies ameaçadas de extinção, como tamanduá-bandeira, anta, cervo-do-Pantanal, queixada, lobo-guará, cachorro-vinagre, gato-palheiro e gato-mourisco. Surpreendentemente, 40% desses animais eram grandes o suficiente para causar acidentes graves envolvendo vidas humanas. Vale ressaltar que esses números são subestimados, uma vez que a maioria dos animais mortos não é encontrada próximo à pista. Ou seja, eles são atropelados e muitas vezes correm para o mato, onde morrem.
As colisões ocorrem principalmente durante a noite, devido à maior atividade dos animais e à menor visibilidade na pista. Apesar do DNIT possuir relatórios e um plano de mitigação para esse trecho da BR-262, recursos já disponíveis há anos ainda não foram utilizados para tomar medidas efetivas.
Leonardo Merçon e Hei Nascimento
Para alertar mortes nas estradas, carcaças amanhecem na sede do DNIT
O problema não se restringe apenas à BR-262. As estradas estaduais do Mato Grosso do Sul também enfrentam essa triste realidade. Segundo a assessoria milhares de quilômetros de estradas cortam áreas rurais do estado, resultando em colisões frequentes e tragédias semelhantes às observadas na "estrada da morte". Estradas como a MS-040, MS-178 e MS-382 já registraram inúmeros acidentes envolvendo animais, alguns dos quais resultaram em vítimas humanas.
Estudos mostram que o investimento em cercamentos e medidas mitigatórias se pagaria em menos de 10 anos, considerando apenas os danos materiais causados por colisões. Além disso, é fundamental considerar os gastos hospitalares e as vidas perdidas. O governo do Mato Grosso do Sul possui o programa "Estrada Viva" desde 2015, com o objetivo de reduzir atropelamentos de animais silvestres em várias rodovias estaduais. No entanto, a falta de ação efetiva e transparência na utilização dos recursos levanta questionamentos por parte da sociedade civil.
Estudo revela centenas de atropelamentos de antas e perdas humanas em rodovias do estado
Um estudo realizado por especialistas entre abril de 2013 e novembro de 2018 revelou um cenário alarmante no Mato Grosso do Sul. Durante esse período, 470 antas foram vítimas de atropelamentos em 32 rodovias, resultando em 55 pessoas feridas e 23 mortes em colisões envolvendo esses animais. A falta de medidas de mitigação levou a ações legais contra órgãos responsáveis, buscando indenizações e ações concretas para resolver essa situação trágica.
Com base em dados fornecidos pela INCAB, em agosto de 2016, foi iniciado um Inquérito Civil no Ministério Público Estadual do Mato Grosso do Sul (MPE‑MS) para investigar a responsabilidade dos órgãos competentes, como a AGESUL e o IMASUL, pela falta de implementação de medidas de mitigação na Rodovia MS‑040. Desde então, diversas atividades foram realizadas, incluindo a elaboração de um Plano de Mitigação para essa rodovia. Em resposta à lentidão dos órgãos estaduais em implementar as ações propostas, em junho de 2018, o MPE‑MS apresentou uma Ação Civil Pública contra a AGESUL e o IMASUL, buscando uma indenização de R$ 10 milhões pelos danos causados aos animais e pelas vítimas humanas na MS‑040. No momento, aguardamos deliberações sobre essa ação.
Os dados revelados pelos estudos mostram que as estradas do Mato Grosso do Sul estão se tornando cenários trágicos de atropelamentos de animais silvestres, resultando em ferimentos graves e perdas humanas. A preparação de planos de mitigação é um passo importante, mas a morosidade na implementação das medidas necessárias é inaceitável. A sociedade civil clama por ações efetivas e transparência, exigindo uma mudança real na forma como as estradas são planejadas e gerenciadas.