O aumento da temperatura nos biomas do Pantanal e da Amazônia está entre os mais altos do Brasil nas últimas quatro décadas. Dados divulgados nesta quarta-feira (5) pelo MapBiomas mostram que, entre 1985 e 2024, o Pantanal teve elevação média de 1,9°C, enquanto a Amazônia registrou aumento de 1,2°C. As informações estão disponíveis na nova plataforma MapBiomas Atmosfera, lançada pela organização para monitorar variações climáticas no país.
A ferramenta reúne imagens de satélite e modelagem de dados sobre temperatura, chuvas e poluentes atmosféricos, cobrindo todo o território nacional. Em média, o Brasil registrou elevação de 1,2°C desde 1985, o que representa uma taxa de 0,29°C por década. Mas os biomas apresentam comportamentos distintos.
No Pantanal, o aquecimento foi o mais intenso, com 0,47°C por década; no Cerrado, 0,31°C; e na Amazônia, 0,29°C. Já os biomas costeiros aqueceram mais lentamente — Caatinga (+0,25°C), Mata Atlântica (+0,21°C) e Pampa (+0,14°C).
“Os dados estão mostrando que, de maneira sistemática, a temperatura está crescendo em todo o Brasil desde 1985. O ano passado foi recorde, mas não é um ano isolado”, explica Luciana Rizzo, professora do Laboratório de Física Atmosférica da USP e integrante do MapBiomas Atmosfera.
Em 2024, a Amazônia e o Pantanal registraram as maiores altas anuais da série histórica: 1,5°C e 1,8°C acima da média, respectivamente. Segundo a pesquisadora, o aquecimento extremo contribuiu para secas severas e incêndios florestais sem precedentes nessas regiões.
O levantamento mostra ainda que estados mais continentais, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Piauí, têm taxas de aumento mais aceleradas (0,34°C a 0,40°C por década). Já os estados litorâneos, como Rio Grande do Norte, Alagoas e Paraíba, registram aquecimento mais brando (0,10°C a 0,12°C/década).
Desmatamento e clima extremo
O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, destaca a relação entre a perda de vegetação e o aumento das temperaturas. “Desde 1985, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa, o que representa 13% de redução. Essa perda altera as trocas de calor e vapor d’água com a atmosfera, elevando as temperaturas”, explica.
Um estudo publicado na Nature Geoscience indica que o desmatamento responde por 74% da redução das chuvas e 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante a estação seca. Em 2024, a precipitação na região ficou 448 milímetros abaixo da média histórica, chegando a reduções de até 1.000 mm anuais em algumas áreas.
A falta de chuva intensificou os incêndios florestais, que devastaram 15,6 milhões de hectares de floresta amazônica no ano passado. “A poluição do ar no Norte foi mais intensa do que em áreas urbanas do Sudeste. A baixa qualidade do ar está diretamente ligada à fumaça dos incêndios”, observa Rizzo.
No Pantanal, o impacto também foi severo. A Bacia do Alto Paraguai registrou déficit de 314 mm de chuva em 2024, somando 205 dias sem precipitações. “A redução de precipitação tem efeitos importantes, especialmente na Amazônia e no Pantanal”, acrescenta Paulo Artaxo, professor da USP e integrante do MapBiomas Atmosfera.
Para Artaxo, a nova plataforma é uma ferramenta essencial para a formulação de políticas públicas baseadas em evidências científicas. “Ela mostra, com clareza, as regiões mais afetadas pelas mudanças do clima e pode ajudar o Brasil a direcionar melhor seus esforços de preservação”, conclui.
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