Corumbá, município de Mato Grosso do Sul, tornou-se o epicentro de um fenômeno que tem chamado a atenção do Brasil: a recorrente aparição de onças-pintadas em área urbana. Segundo levantamento divulgado pela Folha de S. Paulo, entre os 13 casos registrados no país apenas em 2024, a maioria ocorreu em solo sul-mato-grossense — com destaque absoluto para Corumbá.
Vídeos captados por câmeras de segurança têm registrado a presença dos animais caminhando pelas ruas, invadindo quintais e até atacando cães. Em um dos registros mais recentes, datado de 6 de junho, uma onça foi flagrada rondando uma residência no bairro Mirante da Capivara. Em outra ocorrência, os cães de uma família conseguiram afugentar o felino, cuja ação também foi registrada por vigilância eletrônica. Já em 23 de maio, uma onça atacou um cachorro no mesmo bairro, também sendo flagrada em vídeo.
A gravidade da situação motivou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) a publicar, na última quarta-feira (11), uma nota técnica com orientações de segurança, voltada aos moradores de Corumbá. O documento, elaborado em parceria com técnicos do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Polícia Militar Ambiental e outros órgãos ambientais, confirma pelo menos 11 ocorrências de felinos em áreas residenciais da cidade apenas em 2024.
Entre os episódios relatados na nota estão:
• Ataques a cães na região da Cacimba da Saúde (24 e 27 de março);
• Avistamentos próximos ao posto da Polícia Rodoviária Federal e ao Armazéns Gerais Alfandegados (Agesa);
• Relatos de pegadas e ossadas próximas a residências;
• Tentativa de predação no Mirante da Capivara, flagrada em vídeo.
Fatores ambientais e comportamento das onças
De acordo com especialistas ouvidos pelo Ibama, a presença cada vez mais comum de onças em áreas urbanas é explicada por uma combinação de fatores:
A cheia do rio Paraguai, que força os animais a migrarem para áreas secas;
A presença de presas fáceis, como cães e bezerros, nas zonas residenciais;
Os incêndios florestais dos últimos anos, que reduziram os territórios naturais;
E o aumento na vigilância digital, com câmeras de segurança e redes sociais ajudando a documentar os episódios.
A própria nota técnica relata que alguns avistamentos ocorreram de forma silenciosa, e só foram descobertos posteriormente com a checagem das câmeras instaladas pela comunidade e órgãos ambientais.
Ceva de onças pode ser proibida em MS
Diante do crescimento das ocorrências, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul analisa um projeto de lei que proíbe a prática da ceva de animais silvestres no Pantanal, isto é, o fornecimento de alimentos para atrair animais com fins turísticos. A proposta foi apresentada pela deputada estadual Gleice Jane (PT), com o objetivo de inibir a aproximação dos felinos em áreas frequentadas por humanos.
A medida ganhou força após o trágico caso ocorrido em Aquidauana, também neste ano, onde um caseiro foi morto por uma onça-pintada em um pesqueiro. O felino foi capturado dias depois e transferido para reabilitação.
Recomendações e ações preventivas
A nota técnica do Ibama também traz orientações práticas para a população, como evitar alimentar animais em áreas de mata, manter cães protegidos durante a noite, evitar o acúmulo de lixo e não caminhar sozinho por trilhas sem orientação.
Além disso, ações de educação ambiental estão sendo realizadas pela PMA e pelo IHP em bairros mais afetados, como o Mirante da Capivara e a região da Cacimba da Saúde.
Com maior número de ocorrências no país, Corumbá agora é vigiada não só por suas belezas naturais, mas também pela movimentação sigilosa de um dos maiores predadores da América do Sul.
Os vídeos dos flagrantes podem ser vistos em perfis de moradores e portais locais, que têm compartilhado imagens das onças circulando pelas ruas da cidade.
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