A Fazenda Esperança, localizada no município de Aquidauana, distante a 143 quilômetros da Capital, foi invadida na madrugada desta sexta-feira (31), por cerca de 500 índios da etnia terena, de sete aldeias do município. Segundo carta aberta enviada à imprensa, o grupo quer ampliar a terra indígena Taunay Ipegue.
A liderança do grupo enviou ao site Aquidauana News uma carta em que cita os motivos da invasão e suas reivindicações. A carta não traz assinatura, os indígenas se identificam como povo terena da Terra Indígena Taunay Ipegue, Limão Verde e Cachoeirinha.
Na carta, afirmam que sobrevivem com falta de espaço para condição mínima de qualidade de vida e que aguardam, há anos, o processo de demarcação do território tradicional, identificado e publicado por meio de portaria da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 2004. “Assistimos o uso e depredação dos recursos naturais no Território em questão, sobretudo, por meio de desmatamento provocado pelos atuais ocupantes”, afirmam na carta.
Em outro trecho, a liderança citou a morte do índio Oziel Gabriel (35), durante o conflito na Fazenda Buriti, ontem. “Nós, integrantes do Povo Terena resolvemos nesta data, retomar parte do território tradicional atualmente denominado faz Esperança reivindicado e que está marcado na memória de nossos anciãos; exigimos a imediata intervenção da Presidência da República no Caso Terena pela recuperação do Território Nacional em cumprimento a Constituição Federal de 1988”, encerram a carta.
Segundo informações, os indígenas iriam apenas fazer um bloqueio na rodovia, porém, com a morte de Oziel, resolveram acampar na propriedade da família Alves Correa, dividida em Esperança 1,2,3 e 4. Em Aquidauana, indígenas vivem em pouco mais de seis mil hectares, mas querem ampliar para 33 mil. Segundo estudos antropológicos, essa área foi identificada como indígena e abrange todo o distrito de Taunay, que abriga 93 imóveis. O dono de uma das fazendas, a Ipanema, recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF) e conseguiu suspender o processo de demarcação. A Funai e o Ministério Público Federal recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas o caso ainda não foi a julgamento.
A Fazenda Esperança é a propriedade que mais preserva resquícios dos ancestrais, com um cemitério indígena e vestígios da primeira aldeia terena do Estado. Os índios que invadiram a propriedade são das aldeias Taunay, Ipegue, Colônia Nova, Água Branca, Imbirussu, Bananal e Lagoinha.
Segundo o proprietário da Fazenda Esperança, Nilton Carvalho da Silva (59), os indígenas chegaram por volta das 6h30 em motocicletas, carros e tratores. Montaram acampamentos em frente à sede e avisaram aos moradores que deveriam deixar o local em 24 horas. “Eu disse que não poderia atendê-los e que tínhamos que resolver o problema de outra forma”, afirmou Nilton Carvalho que também contou que não houve violência por parte dos indígenas.
A Funai confirma a invasão e explica que a área já teve estudos de identificação e delimitação aprovados. Segundo o órgão, os documentos estão no Ministério da Justiça para análise e posterior publicação da portaria demarcatória.
Em sua página em rede social, Miriam Alves Coelho, mulher do proprietário da Fazenda Esperança comentou sobre a retomada dos indígenas. “Estamos com indígenas no portão da Fazenda do nosso corredor da Esperança (...), nosso intuito é manter a paz no local, mas estamos sem representantes da Funai e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ainda”, contou Miriam.
Em outro trecho, ela afirma “esperamos em Deus que tudo se resolva na justiça e que nossos governantes, srª. Dilma e o Min. da Justiça atentem para o campo e se lembrem que o que eles colocam na mesa para comer todo dia, vem do nosso trabalho e da nossa luta familiar secular como desbravadores”, destacou Miriam.