O jornalista Agnaldo Ferreira Gonçalves é julgado neste instante no Tribunal do Júri de Campo Grande, pela morte do menino Rogerinho Pedra, em 18 de novembro de 2009 – na época com dois anos de idade. O garoto foi atingido no pescoço e o avô dele, que também estava no carro, no rosto.
Os tiros foram disparados no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Rua Rui Barbosa, centro da Capital. Rogerinho estava no banco de trás de uma caminhonete, com a irmã, o avô e o tio, Aldemir Pedra Neto, que conduzia o veiculo.
Para várias testemunhas ouvidas para formatação do inquérito policial, Agnaldo atirou diversas vezes.
A confusão que culminou nos disparos começou na Avenida Mato Grosso com a Avenida Ernesto Geisel.
Depoimentos
A primeira a testemunhar foi Ana Rita Dias Rodrigues, que estava na frente da escola Funlec, na Mato Grosso e presenciou o crime.
Ana Rita relata que viu primeiro a caminhonete parar no semáforo fechado. Depois, veio atrás o carro com o condutor já disparando. Ela afirmou que não viu nenhuma discussão. Não se recorda se foram disparados dois ou três tiros. ˝Mas, foi mais de um˝, diz.

Rita conta que viu primeiro a caminhonete parar no semáforo e que depois veio atrás, carro com condutor atirando
Foto: Deurico/Capital News
A segunda testemunha foi Aldemir, que conduzia a caminhonete. Ele relatou que, quando estava no semáforo da Ernesto Geisel, demorou para sair quando o sinal abriu porque se distraiu com as crianças. Disse que ouviu buzinadas. "Ele buzinou e começou a fazer gestos com as mãos e xingar". "Abriu o sinal eu segui. Ele emparelhou comigo pela direita. Eu pela esquerda e ele pela direita. E pediu para eu encostar".
Aldemir conta que parou e comentou que havia crianças no veículo. ˝Meu pai também falou e ele viu e ouviu". "Demorei para sair porque me distrai com as crianças, disse a ele".
Houve discussão quando os condutores pararam os veículos, em frente ao colégio Neon. Segundo Aldemir, Agnaldo lhe empurrou e apontou o dedo em riste. Ele empurrou de leve Agnaldo que teria dito que era jornalista e que tinha a "polícia na mão".
Aldemir então conta que teria saído e que Agnaldo o seguiu. Quando no cruzamento com a Rua Rui Barbosa, no sinal fechado, Agnaldo disparou. "O primeiro tiro foi no meu pai. O segundo no Rogerinho. Eu arranquei e fui para a Santa Casa".
Segundo Aldemir, Agnaldo fez mira e não atirou a esmo. "Ele mirou, colocou mão sobre a outra para dar firmeza ao revolver".

Aldemir, que dirigia a caminhonete, conta que Agnaldo mirou e não atirou a esmo
Foto: Deurico/Capital News
O próximo a contar sua versão foi João Afonso Pedra, avô de Rogerinho. "Falei que tinha criança no carro".˝
Segundo João, na Ernesto Geisel com a Mato Grosso, Agnaldo começou a buzinar. "No momento em que Aldemir se distraiu com as crianças. Ele [Aldemir] disse: Estou com crianças".˝
"Ele disse que era jornalista e que tinha a policia na mão".
No momento dos tiros, João afirma que "a caminhonete estava parada quando ele [Agnaldo] começou a atirar. Eu o vi atirando". "O primeiro tiro pegou em mim. Outro no Rogerinho. Ouvi ele gritando ai. Meu neto arrancou com a caminhonete e ele [Agnaldo] foi atirando".

João Afonso Pedra, avô de Rogerinho, afirma ter avisado que tinha crianças na caminhonete
Foto: Deurico/Capital News
Mãe
Ariana Mendonça Pedra, mãe de Rogerinho e de Ana, que também estava na caminhonete, comentou como se sentia e como a família esta após a fatalidade.
"Eu não tenho como falar a dor que sinto. Não tem nome, não tem como falar para vocês [se volta aos jurados]. Perdi um pedaço de mim. Quando sinto saudade, vou ao cemitério, me ajoelho olhando aquele nome com a estrelinha de quando nasceu e a cruz de quando morreu".
"Sai cedo para comprar uma árvore de Natal. Quando voltei com a árvore, recebi a notícia de que meu filho havia sido baleado. Falta um pedaço de mim".
Indagado pelo auxiliar da promotoria sobre como a filha se sente após o ocorrido, ela comenta: "Olho nos olhos da minha filha e vejo aquele ponto de interrogação. Ela diz para mim: Mãe, ele [Rogerinho] olhou para mim e disse ai, ai. As últimas palavras do meu filho para a irmã, foram ai, ai. (...) Bem eu sei que ela não esta. Foi uma cena muito forte. Ela foi para a Santa Casa também. Ela viu o avô ensanguentado e o irmão".

Ariana Mendonça Pedra, mãe do menino Regerinho: "Perdi um pedaço de mim"
Foto: Deurico/Capital News
Defesa
Agnaldo sustenta que na Ernesto Geisel, a caminhonete conduzida por Aldemir parou no semáforo e, quando o sinal abriu, demorou para sair. Segundo Agnaldo, que estava atrás, ele "deu uma buzinadinha e gesticulou pouco" para que ele saísse. "Não xinguei, não fiz nada".
Ele afirma que Aldemir é quem lhe ameaçava. "Ele demorou [para sair após o sinal abrir]. Dei uma buzinadinha e gesticulei. Meu filho estava se submetendo a uma cirurgia. Não houve xingamento. Não houve discussão. Não houve nada. Na Calógeras, ele começou a me xingar e disse: Vou te matar".
"Ele emparelhou e continuou dizendo que ia me matar. Achei que ele estava me confundindo".
Com relação ao desacordo em frente ao colégio Neon, quando ambos desceram dos veículos, Agnaldo afirma que Aldemir lhe acertou um tapa no rosto e o empurrou. Inclusive teria empurrado João, que tentara, segundo Agnaldo, apaziguar a situação.
"Ele foi e voltou para o carro e disse que ia pegar uma arma e falou: Vou te matar seu velho filho da puta. Ai eu disse que ia ligar para a polícia. Disquei o 190, mas, ele [Aldemir] bateu em mim e não permitiu que eu finalizasse a ligação".

Agnaldo Ferreira, no banco dos réus, ouve a defesa de seu advogado durante o juri
Foto: Deurico/Capital News
Disparo
Agnaldo sustenta que somente carregou a arma no momento em que percebeu pelo parabrisa da caminhonete, um vulto da mão do motorista que lhe pareceu querer lhe atirar.
Não lembra quantos disparos efetuou.
Acusação
Agnaldo responde pela prática de crime previsto no artigo 121 (homicídio) do Código Penal em relação ao menino, tentativa de homicídio em relação aos demais parentes do garoto que estavam no veículo, além de porte ilegal de arma de fogo.
A acusação e feita pelo promotor do Ministério Publico Estadual (MPE), Fernando Martins, auxiliado por Ricardo Trad. A defesa e por conta de Valdir Custodio da Silva. O juiz responsável e Alexandre Ito.

Promotor Fernando Martins manuseia arma do crime durante juri de Agnaldo Ferreira
Foto: Deurico/Capital News