As dificuldades enfrentadas pelos brasileiros sem-terra que saíram o Paraguai se dizendo vítimas de perseguição deixa de ser assunto veiculado somente pela imprensa estadual e ganha destaque na mídia nacional.
Chamados de brasiguaios, nossos compatriotas começaram a migrar para território paraguaio no começo da década de 1970 – atraídos por promessas de terras e empregos.
Todavia, em 2010, muitos começam a fazer o caminho inverso. O motivo, a concorrência com sem-terra de lá, os ditos campesinos. Como o país é pobre, a situação de descaso em que estas populações vivem acaba gerando conflito entre as nacionalidades.


Betel da Silva, um dos líderes dos brasiguaios, explica a dificuldade de sobreviver às margens da BR163
Reprodução/Globo Rural
Vindos do país ao lado em 30 de abril, os brasiguaios vitimados por este conflito estão alojados de forma precária em barracos de lonas às margens da rodovia BR-163, em Itaquiraí (cidade distante 308 quilômetros ao sul de Campo Grande).
Ministério Público Federal (MPF) em Dourados (que cuida da região) já clamou por soluções para o que chamou de “grave problema social”. Entretanto, a única ajuda que recebem por enquanto seria a entrega de cestas básicas distribuídas a todas as famílias a cada três meses pelo governo Federal.
São 650 famílias nesta situação. E, nesse domingo (18), o Globo Rural – programa da rede Globo de Televisão de renome reconhecido – formulou matéria especial sobre a vida delas.
As famílias sobrevivem no Acampamento Sem-Terra Antônio Irmã, que existe há 3 anos, mas, sofreu verdadeiro inchaço após a vinda dos brasiguaios, saindo de 130 famílias para 650.
Medo e saudades
Ao programa nacional, Betel da Silva, líder da comunidade, concedeu entrevista. “Existe foco de brasileiros no Paraguai sendo ameaçados e expulsos de algumas regiões”, contou.

Dioclécio tem 19 anos e voltou para o Brasil sem saber ler ou escrever; Rapaz conta sobre a saudade da mãe e do pai, que ficaram no Paraguai
Reprodução/Globo Rural
De acordo com o representante, a dificuldade extrema em que estão é visível logo ao juntarem-se ao grupo. “Muitos chegam em situação terrível, sem roupa, sem botijão de gás, sem fogão, sem panela... só com a roupa que vestem e sacola plástica.”
Com 19 anos, Dioclécio Luiz, 19 anos, não sabe ler e, pior que isso, sequer existe perante ao Estado. Ele não possui certidão de nascimento e nenhum outro documento, nem brasileiro, nem paraguaio.
Emocionado, o jovem – que veio sozinho de volta à sua terra natal, o Brasil – conta das saudades da família – que ainda permanece no Paraguai – e dos medos que enfrenta. “Judiaram [alguns campesinos] muito do pai e da mãe. Botaram um revólver na cabeça da mãe. Iam rachar a cabeça da mãe. (...) Lá, ela [família] não tem nada. Estão todos na rua. (...) Vim para tirar meu RG brasileiro, para estudar. (...) Começo até a chorar [ao falar sobre a mãe e o pai], sinto muita saudade... da minha mãe. (...) Se pudesse trazê-la. Nosso país é aqui e não lá. Não sou paraguaio, sou brasileiro.”

Barraco onde Dioclécio sobrevive. Governo federal envia cesta básica a cada três meses, sua única fonte de comida, por enquanto
Reprodução/Globo Rural
Acalento e esperança
Mesmo em locais de extrema pobreza, pessoas batalham por melhorar um pouco o cotidiano.
Antônia da Silva, professora da única escola do local – que funciona num barraco com goteiras – é uma dessas pessoas.
Ela recebe salário da Prefeitura de Itaquraí e atende a quase uma centena de crianças – número que diz poder aumentar a cada dia.

Escola única funciona em barraco improvisado cheio de goteiras
Reprodução/Globo Rural
Sobre o chão batido e desviando o pé das poças d’água formadas pelas goteiras, as crianças têm um momento para pensar no futuro. Mas, por enquanto, elas só parecem pensar no alívio que sentem ao deixarem a região conflituosa.
Dois garotos dizem à repórter que não gostavam de onde estavam: “Tudo bruto” e “Tinha medo deles matar”, são as frases citadas. Logo depois, sorrisos aparecem nos rostos da gurizada que tentam escapar das goteiras e dos respingos de chuva que vêm pela “janela”.
Sebastião Lemos, um dos mais antigos brasiguaios que retornaram este ano, é outra pessoa importante para tentar minimizar o desconforto ali.
Sabedor dos poderes das plantas medicinais, ele fez uma grande horta com as folhagens que conhece.
Por causa disso e por ter feito curso de Primeiros Socorros, é logo chamado em caso de problemas de saúde.

Por causa das goteiras, alunos têm que desviar das poças de água
Reprodução/Globo Rural
“Se é coisa mais fácil, vai e colhe uma planta e faz chá. Mas tem que ter cuidado porque é igual a medicamento, se não saber tratar, dá problema”, explica.
Como lá falta água potável e os poços ficam próximos a banheiros improvisados, as chances de contaminações são fortes. Diarréia, vômitos e náuseas são os problemas mais frequentes.
Adquirida pela picada do mosquito flebótomo, a leishmaniose é outro problema grave.
A adolescente Fernanda acreditava que a ferida que tem na perna que perdura há alguns meses poderia ser sintoma da doença. Menos mal, ela foi ao posto de saúde de Itaquiraí e, segundo ela, o médico, após exames, descartou esta possibilidade. “Deu negativo. É um furúnculo que dura mais de três meses”, conta.
Sebastião foi visitá-la com suas plantinhas no momento em que a reportagem era feita.
À reportagem do Globo Rural, a prefeita de Itaquiraí, Sandra Cassone conta das dificuldades sofridas pelo Poder Executivo Municipal para auxiliar as pessoas que ali estão.
“Teríamos que fazer um mutirão... exame nessas pessoas porque também não se pode sair medicando a torto e a direito. Para Itaquiraí, não tem condições de cuidar. Estamos parecendo bombeiro: começa uma chama aqui, nós vamos apagando. E gritando para o Brasil: ‘Acorda porque, se não, a gente não consegue segurar’.”(Com informações do Globo Rural)



Horta com plantas medicinais de Sebastião Lemos é alternativa para tratar ferimentos sem gravidade em meio à extrema falta de estrututura
Reprodução/Globo Rural
Por: Marcelo Eduardo – (www.capitalnews.com.br)
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erasmo luiz de oliveira 19/09/2010
eu estou acompanhando a luta dos brasiguaios de itaquirai;. parabems
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