Não por acaso, é do jornalista norte-americano Larry Rohter a mais alentada biografia do ‘Marechal da Paz’ publicada até hoje no Brasil: ‘Rondon – Uma Biografia’ (Editora Schwarcz, 2019).
Nesta última quinta-feira comemorou-se, com discrição que certamente não faz justiça ao homenageado, o Dia do Marechal Rondon, um dos mais importantes vultos de nossa história.
Divulgação
Iran Coelho das Neves
Nascido a cinco de maio de 1865 na localidade de Mimoso, hoje distrito do município de Santo Antônio de Leverger (MT), Cândido Mariano da Silva Rondon, reverenciado como o ‘Marechal da Paz’, se tornaria o maior explorador dos trópicos, acima mesmo de nomes lendários, como David Levingstone, Robert Peary e Sir Richard Francis Burton.
Responsável pela implantação de milhares de quilômetros de linhas telegráficas no Centro-Oeste e na Amazônia, enfrentando toda espécie de adversidades Rondon liderou uma empreitada civilizatória sem precedentes.
No rastro das linhas telegráficas surgiriam dezenas de povoamentos, muitos dos quais são hoje cidades-polo de um processo de desenvolvimento que no mínimo teria sido retardado sem o pioneirismo heroico – e altruísta – de Rondon.
Em tempos de redes mundiais em que transitam dados e informações em torrentes contínuas, talvez seja difícil compreender a importância estratégica, comercial modernizadora do telégrafo implantado por Rondon nas primeiras décadas do século XX. Mais ainda quando, ao contrário do que fazem países europeus e os Estados Unidos, não cultuamos a memória nem celebramos os feitos de nossos heróis com a reverência e o entusiasmo patriótico que merecem.
Não por acaso, é do jornalista norte-americano Larry Rohter a mais alentada biografia do ‘Marechal da Paz’ publicada até hoje no Brasil: ‘Rondon – Uma Biografia’ (Editora Schwarcz, 2019).
Além de implantar linhas telegráficas, Rondon participou de quase três dezenas de expedições através do Centro-Oeste e, principalmente, do Norte do Brasil profundo e inóspito de então, percorrendo mais de quarenta mil quilômetros a pé, a cavalo e em frágeis embarcações, para realizar levantamentos topográficos de rios e de extensos territórios até então desconhecidos.
A mais ‘midiática’ dessas expedições – mas certamente não a mais importante para o próprio Rondon – foi a que o levou a percorrer, entre dezembro de 1913 e maio de 1914, em companhia do então ex-presidente norte-americano e Prêmio Nobel da Paz Theodore Roosevelt, e seu filho Kermit, os 1.600 quilômetros do que chamavam “Rio da Dúvida”, pois seu curso e extensão eram totalmente desconhecidos. Rondon o tinha ‘descoberto’ em 1909.
Oficialmente denominada de Expedição Científica Roosevelt-Rondon, a empreitada binacional enfrentou desafios “inimagináveis” (na expressão de Rohter) – incluindo a perda de três membros da equipe – mas marcou o feito histórico de mapear um rio tropical desconhecido. Que o então coronel Cândido Mariano Rondon batizaria de rio Roosevelt, em homenagem a seu ilustre companheiro de expedição.
- Saiba mais
- Tecnologia & cidadania: estrutura virtual a serviço do controle externo eficaz
- Violência na fronteira: Escalada exige pacto binacional
- Risco real: Radicalismo ideológico bloqueia diálogo sensato
- Enfrentamento da Covid-19 o TCE-MS, a crise sanitária e a responsabilidade permanente
- MS lidera perda: Água de superfície: o Desastre além do fogo
- Voto feminino, 92 anos: História de lutas e conquistas
- O TCE-MS, o eSocial e A Unificação Virtuosa
- Mortes violentas: Tragédia brasileira
- Solidariedade como dever social e ético
- Alimentação escolar: Garantir nutrição adequada é dever do gestor público
- Um marco de nosso avanço
- Garantia de qualidade: Reconhecimento e estímulo
- Futuro não é um destino, Mas um lugar a construir
- Decisão do INEP: Desafio urgente para a educação
- O heroísmo dos profissionais da saúde
- Declínio da pandemia: Sensação de alívio não descarta cuidados e solidariedade
- Energia mais cara: nível crítico de represas põe em alerta o sistema elétrico
- Bacia do prata: Infraestrutura e integração
- Biênio 2021-2022: no discurso de posse, compromissos renovados
- A dança dos Insensatos: Festas clandestinas “celebram” a morte
- Um ano de pandemia: apoio a pequenos municípios será decisivo após covid-19
- Brasil contemporâneo: O fenômeno dos ‘gurus’ digitais
- O papel decisivo do SUS no combate à Covid-19
- Desafio contemporâneo: A relevância institucional do TCE-MS
- Com EAD, TCE-MS qualifica a governança
- Marco do saneamento, dois anos: Avanços e percalços
- ADI do PDT abre judicialização
- Busca ativa escolar: Responsabilidade com o futuro
- TCE-MS avança bases de nova cultura de governança
- Encontro nacional: Em pauta, TCs e democracia
- Educação na pandemia: Dois professores, duas histórias dignificantes
- Cada vez mais frequentes: crises hídricas são alerta de que água é recurso finito
- Volta às escolas: A retomada do ensino presencial
- Crianças sem futuro: trabalho infantil desafia e constrange todos nós
- Efeito colateral: Ao expor diferentes "brasis", pandemia incita energia social
- STF anula aumento a servidores: Recomendação TCE-MPMS alertou para ilegalidade
- A retomada do Aquário do Pantanal
- ‘Revoga MS’: Saneamento oportuno
- Hora é de união de todos contra o inimigo comum
- O TCE-MS em 2021: Um ano de respostas aos desafios
- Combate à corrupção, desafio civilizatório
- Pessoas com deficiência: Inclusão enfrenta barreiras
- Um Pantanal, Dois Estados E o Nosso Dever Comum
- Guerra na Ucrânia: Insensatez dos homens, provação para mulheres
- Covid-19: Consciência cidadã é arma de defesa coletiva
- Fronteiras da inovação: TCE-MS e governo digital
- Crianças e adolescentes: UNICEF Propõe que Municípios Reduzam Índices Sombrios
- 1º de maio: com 14,3 milhões sem emprego, difícil festejar o dia do trabalho
- 132 anos de república: Radicalismo e valores republicanos
- Desafio do século 21: com vacinas anticovid-19, ciência dá lição de governança global
- Logística reversa: Pacto põe MS na vanguarda da reciclagem de embalagens
- Combate à corrupção: rede de controle de MS inspira programa nacional
- Por ampla competição: Orientação do TCE-MS visa sanear licitações
- Profissionais da saúde mostram que humanidade pode ser melhor
- Mudança climática: Relevância dos órgãos de controle
- A Importância da Prevenção ao Suicídio
- Violência contra a mulher: Responsabilidade de todos
- Pandemia impõe revisão de valores como tributo
- Qualidade do gasto público: Ainda sobre a relevância dos TCS para a democracia
- TCE-MS, 40 anos: Homenagear nossa história é preparar o futuro no presente
- Campanha eleitoral: Que a sensatez permaneça
- SÍMBOLOS NACIONAIS: Civismo, a essência da nacionalidade
- Revisionismo histórico: Tiradentes, um mártir em questão?
- LC Nº 31 de 11/10/1977: 44 anos da criação de MS
- LC 173/2020: TCE-MS e MPMS alertam sobre contrapartidas a apoio da união
- CAEPE/MS: Educação, desafio de todos
- Pandemia: Vacina contra Covid-19 é bem público essencial
- Tóquio 2020: Evento histórico perdeu oportunidade única
- Pandemia: que papel teremos quando a tragédia virar história?
- Distância Salutar
- Saúde, direito de todos: Há 34 anos, constituinte definia princípios do SUS
- SUS deve ser robustecido para desafios pós-pandemia
- Desafio contemporâneo: A relevância institucional do TCE-MS - 2
- O incentivo à doação de órgãos
- Eleições 2022: Sensatez pela democracia
- Ideias convergentes sobre o legado do SUS
- TCE-MS e os desafios contemporâneos: Uma tarefa transformadora
- O papel transformador do “TCE-MS Sem Papel”
- MS, 45 anos: Breve história, grandes avanços
- Recondução Amplia Empenho Pela grandeza da Corte
- Caso Henry: violência contra a criança não distingue classe social
- COP26: O futuro do planeta em debate
- Sequela social: pandemia expõe e agrava desigualdades na educação
- Gastos emergenciais: A relevância do tce-ms no contexto da pandemia
- Tensões Institucionais: Democria exige resgatar diálogo
- O perigo do radicalismo ideológico
- Censo escolar 2021: Um inventário desafiador
- Covid-19 “suspendeu” calendário gregoriano
- COVID-19: Mais contagiosa, ômicron desafia o mundo em 2022
- Mudança de Paradigmas
- Campo Grande, 123 anos: Capital do nosso orgulho
- Localização e Nome Atestam a Notável Visão do Fundador
- Pantanal: Ficção e realidade
- Sem precedente, crise do COVID-19 testa nosso senso de humanidade
- Reconhecimento: Servidor público, agente da cidadania
- Eleições 2020: município é espaço vital para efetivação da plena cidadania
- Pantanal: MPEs unem MS e MT em defesa do bioma
- Governança pública: Por uma cultura da integridade
- Agenda 2030 da ONU: desenvolvimento sustentável é desafio comum e urgente
- Pesadelo real: Fome no Brasil é drama diário de 19,3 milhões
Mas a extraordinária grandeza de Rondon só pode ser mensurada quando se leva em conta o seu papel como o fundador do verdadeiro indigenismo brasileiro, baseado no rigoroso respeito aos povos originários e na recusa absoluta a qualquer violência de parte dos ‘civilizados’ contra os habitantes imemoriais das terras que ‘desbravavam’. “Morrer se preciso for, matar nunca” foi o lema de sua tarefa de aproximação com os povos indígenas.
Criado em 1910 pelo presidente Nilo Peçanha, o SPI – Serviço de Proteção ao Índio – foi estruturado e dirigido por Rondon, cuja filosofia humanista inspirou um diploma legal que, pela primeira vez no mundo, reconhecia às populações autóctones o direito de conservar sua individualidade e professar suas crenças.
Idealizador do Parque Nacional do Xingu, criado em 1952 – mas que só se efetivaria anos mais tarde – Rondon foi um pacificador na mais legítima significação do termo.
Não por acaso, foi duas vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Na primeira delas, em 1925, por ninguém menos que Albert Einstein, “maravilhado com a ideia de um general pacifista”, registra Larry Rohter.
Por esses breves traços já é possível estimar o quanto o Brasil e os brasileiros devem à memória da portentosa figura de Cândido Mariano da Silva Rondon.
Neste caso, ao vexame do quase esquecimento soma-se uma amarga ironia: Rondon, com todos os méritos, é o Patrono das Comunicações do Brasil. Mas sobre ele “comunica-se” quase nada.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
• • • • •
A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News |
