Campo Grande 00:00:00 Terça-feira, 23 de Setembro de 2025


Opinião Sábado, 24 de Novembro de 2018, 09:57 - A | A

Sábado, 24 de Novembro de 2018, 09h:57 - A | A

Opinião

Arte como indagação política

Por Oscar D’Ambrosio*

Artigo de responsabilidade do autor
Envie seu artigo para [email protected]

A 33ª Bienal de Arte de São Paulo tem artistas que nos obrigam a repensar o cotidiano. Talvez o principal deles seja o guatelmateco Aníbal López (1964 – 2014), que assina parte de seus trabalhos como A-1 53167, número de seu documento de identidade. Era uma forma de questionar nossa posição no mundo apenas como seres anônimos de um grande sistema.

Unesp

Oscar D'Ambrosio - Artigo

Oscar D'Ambrosio

 

Suas performances de cunho político eram sempre ousadas e espantosamente atuais. Talvez a mais melancólica pela sua relevância contemporânea é a ação chamada ‘El préstamo’ (‘O empréstimo’), texto autobiográfico em que narra como assaltou, com uma arma, um senhor na Cidade da Guatemala para financiar a produção de uma exposição.

Discutir, por meio da arte, temas como crise econômica e formas de crime é uma constante no trabalho de López. Nesse sentido, realizou, na Bienal do Mercosul, obras com caixas vazias contrabandeadas do Paraguai para o Brasil e, na Documenta de Kassel, na Alemanha, um dos mais célebres eventos de arte do mundo, entrevistou um sicário. Para manter o anonimato do matador de aluguel, colocou uma tela entre o assassino e o público, que realizou perguntas por cerca de 40 minutos.

Outras ações inesquecíveis foram jogar dez sacos de carvão em via pública antes de um desfile do exército, lembrando o genocídio e a carbonização de camponeses e indígenas por militares; despejar uma tonelada de livros em uma das vias mais movimentadas da capital do país; e, talvez a mais original, inaugurar uma exposição, ‘As pessoas bonitas’, em que os seguranças tinham a liberdade de deixar entrar apenas quem eles julgassem belas.

Em pouco tempo, havia mais gente do lado de fora do que dentro da galeria – e o próprio artista foi impedido de entrar. A ironia do título ganhava sentido, pois mostrava como o concito de beleza está marcado pela subjetividade e pelo relativismo. Por tudo isso, Aníbal López é um artista a ver, rever, pensar e repensar continuamente.

 

 

*Oscar D’Ambrosio

Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

 

• • • • •

 

A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News

 

Comente esta notícia


Reportagem Especial LEIA MAIS