A China elevou na segunda-feira o tom de seus ataques ao Dalai Lama, a quem acusa de abusar da religião, promover distúrbios no Tibet e preparar a independência da região. No mesmo dia, a tocha olímpica chegou a Pequim, sob rígida segurança.
O desprezo dispensado ao líder espiritual tibetano no exílio indica que Pequim resiste à pressão internacional para dialogar com o Dalai Lama, após mais de duas semanas de repressão a manifestações contra o domínio chinês no Tibet e arredores.
A agência estatal de notícias Xinhua disse que o governo tem provas de que o Dalai Lama e seus seguidores planejaram os protestos deste mês. Assessores do Dalai Lama voltaram na segunda-feira a rejeitar as acusações e pediram à China que permita o acesso de investigadores internacionais ao Tibete.
"O auto-intitulado líder espiritual obviamente esqueceu sua identidade, abusou da sua religião e jogou demais com a política", disse a Xinhua, acusando o Dalai Lama de construir uma "infra-estrutura pró-independência". Ele afirma querer apenas mais autonomia para o Tibet.
Vários governos estrangeiros, inclusive o dos EUA, querem que Pequim converse com enviados do Dalai Lama para resolver a questão. A China diz que só aceita isso se o líder budista rejeitar a independência do Tibet e de Taiwan e usar sua influência para conter os distúrbios.
Em Kathmandu, capital do Nepal, a polícia usou na segunda-feira cassetetes contra manifestantes pró-Tibet e prendeu mais de cem deles, depois que os ativistas vindos de várias direções tentaram invadir um escritório consular chinês, segundo testemunhas e policiais.
Os distúrbios em Lhasa, capital do Tibet, começaram em 14 de março, após vários dias de manifestações pacíficas. O governo diz que 18 civis e um policial morreram vítima de agressões a chineses.
Depois dos distúrbios, Pequim enviou dezenas de milhares de soldados para conter manifestações no Tibet e em províncias vizinhas onde há população tibetana.
Ativistas no exterior temem uma repressão generalizada. A China proibiu jornalistas estrangeiros de viajarem por conta própria pelo Tibet e outras partes do oeste da China.
A imprensa estatal dá destaque à violência dos manifestantes, mas evita citar suas motivações. O governo também acusa "a camarilha do Dalai" de tentar perturbar a Olimpíada, a ser realizada em agosto na capital chinesa. O governo tibetano no exílio diz que mais de cem pessoas morreram na repressão governamental.