O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira (2), em meio ao escândalo envolvendo descontos indevidos aplicados a aposentados e pensionistas do INSS. A saída foi oficializada após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já convidou o secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz, também do PDT, para assumir o comando do ministério.
“Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso”, declarou Lupi em publicação nas redes sociais.
A pressão pela saída do ministro cresceu após a deflagração da Operação Sem Desconto, realizada pela Polícia Federal e Controladoria-Geral da União (CGU) em 23 de abril. A investigação revelou um esquema de fraudes em convênios firmados entre o INSS e entidades sindicais, que resultou em descontos indevidos em benefícios previdenciários. O prejuízo estimado chega a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, podendo alcançar quase R$ 8 bilhões se consideradas irregularidades desde 2016.
Apesar de o esquema ter se originado em gestões anteriores, os investigadores identificaram aumento no volume dos descontos a partir de 2023, o que gerou críticas à atuação de Lupi por suposta omissão diante de alertas de diversos órgãos, como o Tribunal de Contas da União (TCU), CGU, Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) e até da imprensa.
“Eu pedi, à época, que o INSS... começasse a apurar as denúncias apresentadas. Levou-se tempo demais”, admitiu o ex-ministro em reunião do CNPS nesta semana. Segundo ele, uma auditoria interna comprovaria sua tentativa de coibir as fraudes após as denúncias.
A demissão ocorre após a substituição de Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS, pelo procurador Gilberto Waller — escolha feita diretamente por Lula, sem consulta a Lupi. O episódio gerou desconforto no PDT, partido do ex-ministro, que se sentiu alijado das decisões sobre a crise.
A permanência de Lupi no cargo passou a ser considerada politicamente insustentável dentro do Palácio do Planalto. Com a saída dele, soma-se a 11ª troca ministerial no atual mandato de Lula, sendo a terceira motivada por escândalos — os outros casos envolveram Sílvio Almeida (Direitos Humanos) e Juscelino Filho (Comunicações).
Enquanto isso, no Congresso, a oposição intensifica articulações para instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigue o caso. Um pedido já foi protocolado na Câmara dos Deputados, e há movimentações para abertura de uma CPI Mista, com participação também de senadores, liderada por Ciro Nogueira (PP-PI).
O governo informou que os convênios com entidades investigadas foram suspensos e que os valores cobrados indevidamente dos beneficiários serão devolvidos.