Todos nós já ouvimos a tão propagada frase que diz que “errar é humano”, e ela está completamente certa: errar é humano. É algo inerentemente de nossa natureza, e não há nada de errado nisso, pois, como nos diz uma outra frase que também é muito popular e que está inteiramente relacionada a essa: “é errando que a gente aprende”, pois é exatamente por meio de enxergar e reconhecer nossos erros que podemos corrigi-los e aprender com eles e por meio deles.
Mas há uma diferença fundamental entre errar e não saber que se está errando. O primeiro, como dito, pertence à condição humana; o segundo, pertence e está relacionado à degradação da consciência. Em nossa sociedade atual já não apenas praticamos o mal, mas nossa percepção moral já está tão degradada que, na grande maioria das vezes, já não reconhecemos o mal como mal, nem atentamos para as consequências ruins que ele nos traz. Dessa forma, a degradação da consciência moral é, provavelmente, o fenômeno mais devastador em nossa atualidade.
Diferentemente de como muitos possam pensar, a moral não é um conjunto de regras exteriores, que muitos podem confundir com alguns princípios éticos, que são externos a realidade interna das pessoas. A moral é, antes, uma conformidade interior para com princípios de ordem superior. O que hoje podemos chamar de “ética” muitas vezes se resume simplesmente a acordos temporários e códigos de conduta para a resolução rápida e prática de possíveis conflitos, códigos esses que, na imensa maioria das vezes, são separados da realidade última. Hoje, na grande maioria das vezes, já não nos perguntamos o que é justo, mas sim o que é socialmente aceito. Já não se busca o bem como um valor em si, mas aquilo que é conveniente para nós ou para o meio ao qual estamos inseridos.
Essa mudança de compreensão para com a realidade dos princípios morais tem raízes profundas, como a ruptura com a tradição, a desvalorização da consciência individual, e a idolatria da opinião pública. Tudo isso somado criou uma nova sensibilidade, onde o escândalo não é o pecado, mas ser chamado de pecador. O problema não é praticar o erro em si, mas ser pego praticando tal ato errado. O problema não é o roubo, mas ser descoberto como ladrão. A culpa que antes servia como um alerta para a alma, se tornou uma doença a ser eliminada, erradicada de nossas consequências a qualquer custo.
Nesse contexto, a cultura da desculpa substituiu a cultura da responsabilidade pessoal, onde cada erro pode encontrar meios de ser justificatificado, seja psicologicamente, socialmente ou, como já se tornou comum nos últimos anos, ideologicamente, de forma que o indivíduo deixa de ser sujeito moral e responsável por suas atitudes e passa a ser vítima de sistemas, de traumas ou de determinados contextos. Nesse processo, morre a liberdade — pois só é livre quem assume a responsabilidade por seus atos, como podemos aprender tanto no exemplo de Jesus quanto de Sócrates.
Sem consciência moral, não há verdadeiro arrependimento, e sem arrependimento não há possibilidade de redenção, nem mesmo de uma mudança verdadeira, que modifique os rumos que a humanidade está tomando. No lugar do perdão e da responsabilidade para com nossas ações, estamos vendo sobressair acusações e ressentimentos, criando uma sociedade onde cada um culpa o outro por aquilo que não quer reconhecer, e, muito menos, corrigir em si mesmo.
Em meio a tudo isso, devemos ententer que recuperar a consciência moral é recuperar o sentido de nossa própria existência. É reconhecer que existe algo em nós que responde por algo maior do que nós mesmos. É redescobrir o valor da retidão silenciosa, da virtude sem plateia, do bem feito no anonimato, sem intenção de ser visto ou aplaudido. É trazer de volta o que Jesus ensinou sobre uma de nossas mãos não ter conhecimento sobre o que a outra mão fez.
Pois, se nós e nossa sociedade continuarmos a viver da forma que temos vivido, ignorando todos os princípios morais que nos protegem da degradação, continuaremos caminhando em direção ao abismo, tanto socialmente quanto espiritualmente.
Não haverá cura ou restauração para nossa época enquanto nós não voltarmos a dar ouvidos aos princípios morais que foram estabelecidos para a nossa própria proteção, para nos ensinar a vivermos bem uns com os outros, enquanto não voltarmos a escutar nossa própria consciência moral - se ainda tivemos algum resquício dela - e reconhecer, nela, a voz que busca nos guiar no caminho do bem, no caminho que leva a eternidade.
*Wanderson R. Monteiro,
Autor de São Sebastião do Anta – MG.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
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