Depois de afirmar que não pensa em deixar o cargo, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, disse nesta segunda-feira (23) estar tranquilo, focado no trabalho e destacou que a semana será longa, porque prepara novas medidas na área econômica com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Jucá concedeu entrevista, após publicação de reportagem no jornal Folha de S.Paulo, com conversas gravadas entre ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Segundo o jornal, eles estariam discutindo formas para impedir o avanço da Operação Lava Jato sobre o PMDB, partido do ministro.
Jucá confirmou a conversa com o ex-presidente da Transpetro. Segundo ele, o também ex-senador Sérgio Machado foi à casa dele na hora do café da manhã para conversar sobre várias questões. Durante a entrevista, Jucá enfatizou não ter nada a temer e que não deve a ninguém. Segundo ele, se tivesse “telhado de vidro” não teria assumido a presidência da PMDB, durante o embate com o PT no afastamento da presidente Dilma Rousseff.
“Eu estive com o presidente Michel Temer pela manhã e ele reafirmou - eu também reafirmo - nosso apoio à Operação Lava Jato. As investigações têm que ser feitas e a punição a quem quer que seja, e que tenha algum tipo de responsabilidade”, disse. “Não perco um minuto do meu dia de preocupação com a Operação Lava Jato”, destacou.
Interferência
Segundo Jucá, não há a mínima chance de interferência do Executivo sobre qualquer tipo de investigação. “Até porque ela é procedida de dentro do Poder Judiciário. Tanto na Justiça Federal do Paraná, quanto no Supremo Tribunal Federal, que são poderes independentes”, afirmou.
Ele destacou o apoio dado à recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mesmo quando havia “resistências no Senado Federal”. Jucá disse que Janot faz um excelente trabalho e o Ministério Público deve ter autonomia para investigar “quem quiser e quem precisar de investigação”.
O ministro defendeu que as investigações sejam céleres e sem proteger “quem quer que seja”. Ele disse que convocou a entrevista coletiva para repelir qualquer interpretação dada pelo jornal, no que diz respeito aos diálogos com Sérgio Machado.
Segundo ele, os diálogos fazem parte de uma conversa extensa e não podem ser avaliados como frases soltas divulgadas pela reportagem. “As conversas que fiz com o senador Sérgio Machado são de domínio público. Tenho dito o que disse permanentemente em entrevistas e em debates”, declarou.
De acordo com a reportagem, em um dos trechos da gravação, Jucá disse que “tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”. Ao ser questionado sobre o trecho, ele disse que estava se referindo ao cenário da economia do país, e não a uma paralisação da Lava Jato.
O ministro disse que tem uma posição clara e cristalina sobre o assunto. Garantiu que deixou de apoiar a presidente Dilma por conta da questão econômica. Defendeu o afastamento da presidente e a mudança de governo, porque entendeu que existia uma paralisação política e econômica devido à Operação Lava Jato.
"O governo tinha perdido as condições de governar. O eixo do governo era a preocupação com a Operação Lava Jato e as ações que dela decorriam. Seria impossível governar dessa forma,” disse.
Saiba mais
Em gravação, ministro do Planejamento fala em pacto para deter Operação Lava Jato
Reportagem
O jornal Folha de S.Paulo divulgou nessa segunda-feira trechos de gravações obtidas pelo jornal que mostram conversas entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Nas gravações, segundo o jornal, o ministro sugere que seria preciso mudar o governo para “estancar” uma “sangria”. Segundo as informações do jornal, o ministro estaria se referindo à Operação Lava Jato, que investiga fraudes e irregularidades em contratos da Petrobras.
Nos trechos publicados, Machado diz que está preocupado com as possíveis delações premiadas que podem ser feitas. “Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho”.
Jucá responde que Machado precisava ver com seu advogado “como é que a gente pode ajudar” e cita que é preciso haver uma resposta política e mudança no governo. “Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”, disse o ministro, segundo o jornal.
No diálogo publicado, Machado diz que a “solução mais fácil” era ter o então vice-presidente Michel Temer na presidência e que seria preciso fazer um acordo. “É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional” e Jucá responde: “Com o Supremo, com tudo”. Logo em seguida Machado diz: “Com tudo, aí parava tudo” e o ministro concorda: “É. Delimitava onde está, pronto”.