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Agronegócio Quarta-feira, 28 de Maio de 2025, 19:15 - A | A

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Levantamento

Etanol de milho ganha força em Mato Grosso do Sul e impulsiona economia

Estado deve produzir 2,07 bilhões de litros na próxima safra e mira exportações de subproduto para a China

Elaine Oliveira
Capital News

A segunda safra de milho 2024/2025 em Mato Grosso do Sul deve disponibilizar 10,2 milhões de toneladas do cereal, segundo dados do Projeto SIGA-MS, da Aprosoja/MS. Desse total, menos de 1 milhão de toneladas deve ser direcionado ao mercado externo, já que o consumo interno tem forte demanda, especialmente para a produção de etanol e ração animal.

De acordo com o analista de Economia da Aprosoja/MS, Mateus Fernandes, a maior parte do milho colhido no estado permanece em território nacional. “A produção de etanol e de ração para alimentação animal, que chamamos de consumo interno, são as mais significativas no Mato Grosso do Sul, representando conjuntamente mais de 50% da oferta de milho do Estado. Outra parte do milho é destinada a outros estados brasileiros como Paraná e Santa Catarina, onde é utilizado para ração de aves, suínos e bovinos”, explica.

A produção de etanol de milho tem crescido de forma expressiva nos últimos anos e se consolidado como alternativa estratégica e sustentável na matriz energética brasileira. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o Brasil ocupa hoje a terceira posição no ranking global de produção de milho, atrás apenas de Estados Unidos e China. Entre as safras 2019/20 e 2023/24, o volume de etanol de milho produzido no país saltou de 1,6 bilhão para 6,3 bilhões de litros — um crescimento de 293%.

Para o ciclo 2025/26, a Unem estima uma produção nacional de 9,9 bilhões de litros, sendo Mato Grosso do Sul responsável por 2,07 bilhões de litros, o segundo maior volume do país, atrás apenas de Mato Grosso, com 5,98 bilhões. Goiás aparece em terceiro, com 831 milhões de litros previstos.

Na safra 2023/2024, Mato Grosso do Sul produziu 4,2 bilhões de litros de etanol, sendo que 37% — cerca de 1,55 bilhão de litros — teve como base o milho. A expectativa é que o estado alcance 4,7 bilhões de litros na próxima safra, com o milho respondendo por 2,07 bilhões de litros desse total.

“O avanço do etanol de milho em Mato Grosso do Sul não apenas fortalece a economia regional, mas também contribui para a diversificação da matriz energética nacional, alinhando-se aos compromissos de sustentabilidade e redução de emissões de gases de efeito estufa. Com perspectivas promissoras, o estado consolida-se como um polo de referência na produção de biocombustíveis no Brasil”, destaca o presidente da Aprosoja/MS, Jorge Michelc.

Segundo a Biosul, o estado conta com 22 usinas de bioenergia em operação, sendo 19 voltadas ao processamento da cana e três específicas para o milho. O setor emprega cerca de 30 mil pessoas com salários acima da média estadual e representa 17% do PIB industrial de Mato Grosso do Sul.

Além do etanol, a indústria do milho também gera subprodutos de valor agregado, como o DDG e o DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis), usados como insumo proteico na alimentação de bovinos, suínos, aves, peixes e até animais de companhia. Esses farelos, conhecidos internacionalmente como Brazilian Distillers Grains, estão na mira da China, que pode se tornar o principal comprador do produto brasileiro.

“A crescente demanda da China por DDG brasileiro está despertando otimismo no setor produtivo do Mato Grosso do Sul”, afirma Mateus Fernandes. De acordo com a Unem, o mercado chinês tem potencial para importar até 7 milhões de toneladas por ano, quase o dobro da produção nacional registrada na safra 2024/25, que foi de 4,2 milhões de toneladas. Mato Grosso do Sul respondeu por 1,2 milhão de toneladas, ou 30% desse volume.

Fernandes ressalta os impactos positivos que a valorização do DDG pode gerar na economia estadual: “O primeiro impacto esperado é o aumento do preço do produto, beneficiando diretamente as usinas de etanol de milho e seus investidores. A tendência é de maior valorização do milho, incentivando os agricultores locais a expandirem suas áreas plantadas”.

Ele também aponta os efeitos indiretos no setor logístico e de serviços. “O aumento nas exportações de DDG exigirá maior movimentação logística, desde o transporte até o armazenamento e escoamento do produto. Isso tende a gerar empregos, aquecer empresas de transporte e infraestrutura e ampliar a movimentação econômica em municípios com forte presença do agronegócio”.

Por outro lado, o economista alerta que a elevação das exportações também pode provocar aumento dos preços do DDG no mercado doméstico, gerando preocupação para confinadores e pecuaristas. “Com parte significativa do DDG destinada ao mercado externo, a oferta interna pode diminuir e os preços no mercado doméstico podem subir. Isso preocupa pecuaristas e confinadores, que utilizam o DDG como importante fonte de proteína na ração animal”, explica.

A possível entrada da China como compradora em larga escala pode reposicionar Mato Grosso do Sul como protagonista de uma nova fase do agronegócio nacional. Para isso, será necessário manter o equilíbrio entre a expansão das exportações e o atendimento ao mercado interno. Se bem gerida, essa transição pode garantir ganhos expressivos para toda a cadeia produtiva e consolidar o estado como referência na bioenergia e na exportação de coprodutos agrícolas.

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