Definição aconteceu quatro dias antes do aniversário do precursor Luiz Gonzaga
Quando Gonzagão cantou que “todo tempo quanto houver pra mim é pouco, pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco”, não imaginava que o estilo musical que ele era pioneiro seria considerado um dia como patrimônio imaterial brasileiro. Mas esse dia chegou. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) decidiu, em 9 de dezembro de 2021, por unanimidade, que o forró fosse declarado patrimônio imaterial brasileiro. A decisão aconteceu em uma reunião extraordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural da entidade, que chegou a esta conclusão a quatro dias do Dia do Forró, comemorado em 13 de dezembro, dia do nascimento do mentor de toda essa história, Luiz Gonzaga, o rei do Baião.
Supergênero
Na ocasião, o conselho, composto por representantes de instituições públicas e privadas, além de pessoas civis, também deu ao forró o título de supergênero, por englobar expressões e ritmos populares, como xaxado, xote, baião, arrasta-pé, chamego, miudinho e quadrilha, tão tradicional no São João do Nordeste.
Processo demorado
O processo já tinha sido aberto pelo Iphan desde 2011, por solicitação da Associação Cultural Balaio Nordeste, de João Pessoa, na Paraíba. Foram dez anos parado, e só teve um desfecho neste ano, por conta de um forte apelo de diferentes atores e pessoas envolvidas com o estilo musical, que representa grande parte do Brasil.
As fases do forró
A princípio, o forró representava uma criação artística do homem sertanejo. De acordo com uma pesquisa feita pelo Iphan, a primeira gravação de música em que o termo “forró” foi citado aconteceu em 1937, com a faixa intitulada “Forró na roça”, dos músicos Xerém e Manoel Queiroz. Mesmo assim, Luiz Gonzaga é considerado o grande pioneiro e representante do forró em todo o Brasil. Esta é a fase do forró tradicional, também conhecido como pé-de-serra, que começa em 1940, tocado com apenas três instrumentos: sanfona, zabumba e triângulo. Os principais nomes dessa primeira fase são Luiz Gonzaga e Carmélia Alves. Em seguida, é a vez de Dominguinhos, Marinês, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro e Pedro Sertanejo ganharem visibilidade.
Com o passar do tempo, o forró entra em uma nova fase, reflexo da urbanização e modernização. O estilo musical começa a ter mais apelo com o público universitário e, por isso, ganha o nome de forró universitário. Em 1975, artistas como Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Jorge Altinho e Nando Cordel começam a inserir no forró tradicional elementos eletrônicos, característicos dos estilos pop e rock. Depois de um tempo perdendo força, em 1990, o forró universitário volta com pique total, com as bandas Falamansa, Trio Rastapé e Forróçacana, e ganha um público imenso de adeptos em todo o Brasil.
Mais recentemente, até o forró se rendeu ao eletrônico, na sua fase chamada de forró estilizado, com destaque para a linguagem moderna e urbana – uma apresentação performática, com muita iluminação e a vestimenta carregada de brilho. O órgão eletrônico entra para substituir a sanfona, e o forró eletrônico tem como grande influenciador a música sertaneja romântica e os estilos brega, tecnobrega e axé music. As bandas que são referência nesta etapa são: Mastruz com Leite, Magníficos, Aviões do Forró, Calcinha Preta, Caviar com Rapadura e Garota Safada.
Está na essência do forró não ter preconceito e estar disponível para todos. Ele não discrimina ninguém e é por isso que está sempre em transformação. Não tem época para dançar um forrozinho e acontecem shows e festas de forró o ano inteiro, porque ritmo mais brasileiro, não há. Mas, se é para arrastar o pé, ou receber um cheiro no cangote, igual à Carolina de Gonzagão, que seja com uma sandália nova, ou um perfume gostoso, comprado em uma outlet online ou uma lojinha que esteja em promoção.