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Opinião Sábado, 05 de Novembro de 2022, 16:21 - A | A

Sábado, 05 de Novembro de 2022, 16h:21 - A | A

Opinião

Simples assim - A Política Brasileira

Por Francisco Gomes Júnior*

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Foi eleito um Operário para a Presidência da República, com um discurso contra a corrupção. A política econômica continuou a mesma e profissionalizou-se o presidencialismo de coalização, se estabelecendo uma “mesada” a deputados e senadores Chupins para que votassem a favor do governo. Um aliado Alucinado “amigo da onça” delatou esse procedimento e o denominado “Mensalão” virou escândalo.

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Francisco Gomes Júnior - Artigo

Francisco Gomes Júnior

 

Houve julgamentos e condenações, mas o Operário conseguiu reeleger-se Presidente e mais, conseguiu eleger a sua Sucessora, sua chefe da casa civil. A Sucessora, por sua vez, fez um primeiro governo razoável, o que foi o suficiente para reeleger-se por pequena margem. O candidato derrotado, Garoto Problema de uma família tradicional de políticos, não se conformou, disse que algo não cheirava bem, alegou fraude, pediu recontagem de votos e não foi bem-sucedido.

Mas, com isso, o segundo mandato da Sucessora começou sob desconfiança. E, de fato, foi bem ruim, o que lhe rendeu um impeachment. Junto com sua queda, explodiu um outro escândalo, envolvendo vários partidos de sustentação do governo. Era o denominado “Petrolão”, um esquema onde se entregava o controle de empresas estatais para aliados do governo (os Chupins) em troca de apoio nas votações parlamentares. Só que esses aliados arruinaram as empresas, cobrando propinas e associando-se a empreiteiros que ganhavam bilhões em obras. Era uma versão turbo do Mensalão.

O herói da ocasião era o Super Juiz que condenou todos por corrupção e outros crimes, prendeu empreiteiros até então intocáveis e prendeu e condenou o Operário. Fim de uma era. Surge então o Mito, um defensor da moral e bons costumes, religioso e que promete acabar com a corrupção. Sua candidatura tem um crescimento meteórico e ele se elege Presidente da República, a fim de derrotar o sistema corrupto. Para surpresa de muitos, o Super Juiz se torna funcionário do Mito, vira um ministro de governo.

Com o passar do tempo, o Mito percebe que sem Mensalão e Petrolão, fica difícil ter apoio no Congresso Nacional. A forma encontrada para contornar esse problema é entregar boa parte do governo para os Chupins e encerrar a operação que o Super Juiz iniciou contra a corrupção. O Super Juiz rompe com o Mito e deixa o governo. E como somente isso não é suficiente, a solução é criar um “orçamento secreto”, uma versão 4.0 daquele antigo Mensalão. Com isso, o Mito completa seu mandato.

Como a história da política brasileira é um ploot twist permanente, depois de várias condenações, o Operário é liberado da prisão e se torna apto a disputar com o Mito as eleições presidenciais. O Super Juiz tenta ser candidato, não consegue e volta a se aliar ao Mito, com quem havia rompido.

O país se divide e se une. Se divide entre o Operário e o Mito, mas se une em insatisfações. Partidários do Mito acham um absurdo o Operário ter se livrado das acusações e ser libertado e partidários do Operário acham que o Mito é um genocida por ter se omitido no momento inicial da pandemia da Covid-19 que ceifou centenas de milhares de vidas.

Resumindo, há uma divisão tendente ao radicalismo no momento das eleições. Muito equilíbrio na disputa. Há uma semana das eleições, o velho Alucinado amigo da onça reaparece, resistindo a uma ordem de prisão e atirando contra policiais federais, prejudicando a candidatura do Mito. Mesmo assim, as eleições são equilibradas e o Operário vence por pequeno percentual (cerca de dois milhoes de votos). O Mito se cala.

Como reação ao resultado das eleições, os Chupins são os primeiros a reconhecer a vitória do Operário e a acenar com possível sustentação ao governo, pelo interesse do Brasil. Mas aliados ideológicos do Mito não se conformam com o resultado e como que acionando os advogados do Fluminense, querem virar o jogo no tapetão. Passam a defender um golpe de Estado Militar. O Mito reaparece, faz um discurso dúbio em que cada um entende o que quiser, para muitos ele reconheceu a derrota, para sua bolha, ele deu o recado que as manifestações devem continuar.

Para um intérprete afastado dos partidarismos, o governo do Operário será muito difícil, nasce com a sombra do impeachment já antes de tomar posse no cargo. Se ele não montar um governo de ampla coalização, tem grande chance de não completar o mandato. O Mito, por sua vez, ciente de que nos próximos anos outros políticos de direita, sobretudo que se elegeram governadores estarão mais presentes na mídia e poderão assumir a liderança do público conservador, alimenta as manifestações alucinadas como um ato final, algo que para ele seria uma saída triunfal.

No meio de tudo isso, um país encurralado entre esses dois polos, como naquelas cenas de filme de terror em que as paredes vão se fechando. Simples assim.

 

 

*Francisco Gomes Júnior

Sócio da OGF Advogados. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor do livro Justiça Sem Limites. Instagram: https://www.instagram.com/franciscogomesadv/

 

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