
Sede da OAB-MS
Há mentes tipificadoras e classificatórias que submetem a complexidade do mundo a esquemas reducionistas. São os radicais aristotélicos avessos à dialética que é inerente à profusão da realidade. Acostumados a carimbar os fenômenos com epítetos e estigmas, fogem ao desafio de enfrentar o novelo das interações porque não suportam o peso dos relativismos. Reagem, pois, rotulando autoritariamente coisas, pessoas, fenômenos e relações.
A OAB é uma dessas prediletas vítimas do vezo calvinista da simplificação arbitrária quando se debate a respeito de sua vocação institucional ou corporativa. Dentro e fora da advocacia, há propagandistas deste dilema que, de forma inconseqüente, reduzem a instituição à categoria de refém de um esquema teórico com profundas implicações ideológicas que, de resto, subvertem a essência da OAB.
Nem corporativa, tampouco institucional! A OAB é a síntese mais expressiva de uma entidade vocacionada para a expansão dos potenciais libertários dos valores constitucionais da Democracia de Direito. Sua certidão de nascimento tem o carimbo do povo e a sua maturidade foi alcançada sob o signo de heróicas provas de civismo.
Os que tentam reduzir a OAB a uma espécie de franquia da burocracia corporativa são os remanescentes do frustrado sonho stalinista, hoje perdidos nas brumas de sua perversa ideologia albanesa, saudosos dos tempos da coletivização forçada e do liberticídio político que ensopou de sangue os flocos de neve do autofágico império soviético. Estes pretensiosos “donos” de verdades ideológicas difundem, tal como Himmler, que a OAB não tem estatura institucional para ser porta-voz dos direitos da sociedade, sob o canhestro argumento de que se trata de uma entidade meramente corporativa.
Preferem, entretanto, esquecer que se não fosse o espírito intimorato dos advogados, o Brasil não teria alforriado escravos, não teria proclamado a república, não teria redigido constituições liberais, não teria denunciado a tortura, não teria redemocratizado o país, não teria anistiado os banidos e exilados, não teria denunciado o estado policialesco, não teria declarado o impedimento de presidente, não teria levantado bandeiras de defesa da justiça, da democracia, da paz e da unidade nacional.
Preferem os acólitos do materialismo fascistóide reviver os tempos de Ceausescu e Hoxha, tesos de apetite tanatológico, com laivos de racismo higienizante, para eclipsar o brilho de uma entidade cuja história se confunde com a luta pela liberdade no país. Eles se dizem comunistas, mas agem como os mais famintos especuladores do capitalismo, traficando mentiras e maldades em troca de favores e cooptação.
Mas a OAB resistirá, porque ela é fonte cristalina de um compromisso transcendental. Ela, a OAB, mudou e a sua fisionomia não está mais “vermelha” de raiva ou “rubra” de ódio. Hoje, a OAB não mais exala o cheiro de naftalina do monopólio de grupo e, de certa forma, está a um passo de se libertar do paradoxal “monopólio” de antigos “donos” de seu destino.
Ela avança indômita em busca de relegitimar a sua identidade fundamental, porque ser OAB é, antes de tudo, exercer a liberdade de amar a liberdade! O verdadeiro “oabista” fala palavras de concórdia e união, buscando a harmonia da classe. Ele não faz fofocas, não propaga boatos, não dissemina mentiras e procura sempre o diálogo. Ele não é raivoso, não é sectário, não é virulento e tampouco odioso, porque sabe que a cabeça é para pensar com o cérebro e não com o fígado. Ele não fomenta intrigas, não semeia calúnias, não esparge discórdia, porque sabe que a palavra é arma que, mal utilizada, mata o próprio dono da língua.
Enfim, o verdadeiro “oabista” respeita o espaço sagrado do escritório do colega e por isso não ousa desobedecer a ritualística da virtude que impõe o dever de respeito e urbanidade com o próximo. Ele respeita a si, por isso respeita o outro.
Na confluência destes caminhos, a OAB ressurge como a força vibrante de uma inédita mentalidade que mobilizará toda a sua energia espiritual para não permitir que o ódio e a mentira prevaleçam sobre o Amor e a Verdade.