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Polícia Segunda-feira, 11 de Maio de 2015, 08:03 - A | A

Segunda-feira, 11 de Maio de 2015, 08h:03 - A | A

"Chuva mágica"

Gaeco investiga "chuva inteligente" em Camapuã e caso vai parar no Fantástico

Taciane Peres
Capital News

Mais uma vez Mato Grosso do Sul foi alvo de um escândalo que tomou proporções nacionais. Dessa vez, o repórter secreto do Fantástico investigou a prefeitura da cidade de Camapuã, de 13 mil habitantes no Estado por suposto desvio de verbas que chegam a R$ 8 milhões de reais.

 

Reprodução/TV Globo

Investigação do Gaeco sobre

Investigação do Gaeco sobre "chuva inteligente" coloca MS em mais um escândalo de corrupção

A suspeita na “Capital do bezerro de qualidade” começou através de denúncias enviadas ao Ministério Público, onde eram realizados desvios de recursos públicos a partir de contratos forjados. Com a denúncia o Gaeco começou a investigação. “As denúncias davam conta de desvio de recursos públicos a partir de contratos forjados, contratos fraudulentos, de aquisição de material de construção, bem como serviços na área de construção civil”, diz Marcos Alex Veras de Oliveira, coordenador da Gaeco no Mato Grosso do Sul.


A investigação do Gaeco, relaciona a empresa “Arbaes Construtora", onde o repórter foi até a sede dela e verificou que não havia muro, portão ou empresa qualquer. No local era a casa de um ex-secretário de Administração que hoje é um assessor.


Iniciada a investigação, as autoridades tentaram examinar a papelada da prefeitura. “O Ministério Público local requisitou as licitações, empenhos, pagamentos e documentos que comprovassem aqueles pagamentos que tínhamos notícia que vinham ocorrendo, e que estavam sob investigação”, explica Marcos Roberto Dietz, promotor do Gaeco/MS.


A partir disso, foi criada uma “chuva inteligente” para tentar desviar a atenção, como se os documentos tivessem sido danificados por uma chuva que caiu na cidade. “O que nos chamou a atenção foi à justificativa apresentada pelo então procurador jurídico do município, Maurício Duailibi, para justificar o extravio desses documentos. Simplesmente ele alegou que dez caixas de documento teriam sido danificadas por água da chuva. Esses documentos foram levados para secar no sereno em uma situação inusitada e, por uma razão não explicada, ainda sumiram da prefeitura da noite para o dia”, conta o coordenador da Gaeco no Mato Grosso do Sul.


De acordo com os envolvidos, a chuva teria caído no dia 10 de março do ano passado, mas o boletim de ocorrência foi feito muito tempo depois. “O registro da ocorrência do extravio desses documentos se deu somente 60 dias após o evento chuva e após o Ministério Público ter cobrado por várias vezes que se enviasse essa documentação”, diz o coordenador da Gaeco no Mato Grosso do Sul.
O Gaeco então entrou em contato com alguns funcionários e verificou uma infiltração mas negaram qualquer documento que tivesse sido extraviado, confira no vídeo.

 

Trechos da conversa
Homem: Era só mais ou menos isso aqui. Não era um documento importante, assim...
Fantástico: Não botaram para secar nada não, né?
Homem: Não, não. Perdeu-se algum documento aqui no teu setor, você lembra?
Mulher: No meu, não.
Na época da “tempestade” Maurício Duailibi era o procurador jurídico do município. Foi ele quem enviou um ofício ao Gaeco para comunicar a "chuva torrencial" que acabou fazendo a papelada sumir. Supostamente.
Em conversa gravada com autorização da Justiça, Maurício pede um favorzinho ao dono de uma empresa que presta serviço à prefeitura fornecendo salgados.
Maurício Duailibi: Você ainda tem aquele contrato com a prefeitura?
Dono de empresa: Qual contrato?
Maurício Duailibi: De salgados.
Dono de empresa: Tenho. 
O secretário de administração de Camapuã, Maurício pretende fazer uma confraternização a algumas pessoas no estádio da cidade, o Carecão e insinua troca de itens em notas fiscais.
Maurício: Eu vou fazer um aperitivo para um pessoal que vai jogar hoje lá no Carecão e estava pensando em pegar uma carne. Você joga como salgado.
Depois que o Gaeco começou a investigar as fraudes, Maurício ligou para um colaborador para fraudar outra nota:
Maurício Duailibi: Que marca de cigarro você fuma?
Colaborador: Eu ainda não fumo, não.
Maurício Duailibi: Mas vai ter que aprender.
Colaborador: Que que foi?
Maurício Duailibi:Dia de visita em cadeia é quinta-feira, domingo, como é que é? O Gaeco está aqui atrás daquelas notas.
Sobre as notas dos contratos molhados na tal chuva, ele e um comparsa conversam em outro telefonema.
Maurício Duailibi: Vai dar mais ou menos só uns R$ 800 mil.
Colaborador: Daquelas notas? Não, pode jogar três vezes, mais esse valor.
Ou seja, R$ 2,4 milhões em notas frias.


Na última sexta-feira (08), Maurício foi preso pelo Gaeco durante operação de busca e apreensão em vários locais. Ele portava uma arma sem registro e sem porte. Foi solto depois de pagar fiança.
O Fantástico procurou Maurício Duailibi e o prefeito da cidade, Marcelo Duailibi, do DEM. O prefeito é sobrinho de Maurício. A equipe do Fantástico também procurou Carlos Nino Machado, o assessor da prefeitura que é o dono daquela casa que é sede da empresa Arbaes mas não obteve resposta.

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