O poeta, escritor e teatrólogo Ferreira Gullar morreu no Rio de Janeiro. Aos 86 anos, o maranhense já era leito “imortal” da Academia Brasileira de Letras em 2014. Ele foi vítima de uma pneumonia.
Gullar estava internado há 20 dias no hospital Copa D’Or, na Zona Sul do Rio. Às 9h de segunda-feira (5), o corpo saiu para o velório no prédio da Academia Brasileira de Letras. Às 15h, será levado para o enterro no mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.
Em 2010, recebeu o Prêmio Camões, mais importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, pelo conjunto da obra. No mesmo ano, foi contemplado com o título de Doutor Honoris Causa na Faculdade de Letras da UFRJ. Um ano depois ganhou o Prêmio Jabuti com o livro de poesia "Em alguma parte alguma".
Seu último livro foi "Autobiografia poética e outros textos", lançado este ano. Ferreira Gullar deixa dois filhos, Luciana e Paulo, oito netos, e a companheira Cláudia, com quem vivia atualmente.
Poesia de Gullar
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?