Dignidade e um lar para viver. Esse é o desejo das 64 famílias indígenas que vivem em situação drástica em Campo Grande há mais de 8 anos, esperando uma solução do poder público, em relação ao direito as terras, moradia, saúde, alimentação e outras exigências básicas para garantir a sobrevivência dos índios.
Assentados a quase 1 mês num terreno de propriedade da prefeitura municipal de Campo Grande no bairro Santa Mônica, as famílias vieram de Aquidauana, município de Mato Grosso do Sul localizado a 131km da capital e homens, mulheres e crianças suplicam entre olhares desesperados por uma oportunidade de trabalho, e um lar para morar. É o caso de Armindo Jorge Neto, de 30 anos, que trabalha na área industrial está preocupado com a situação dos familiares indígenas, que sofreram com o temporal da última sexta-feira (19) e com a situação precária em que vivem. “Nós tivemos que improvisar tudo aqui. Não temos saneamento, viemos atrás do nosso sonho da casa própria e conquistar a nossa dignidade como indígena. Nós temos esse direito principalmente porque somos donos dessas terras também. Queremos um lar, pagar impostos como todo cidadão faz e principalmente proporcionar segurança aos nossos filhos e esposas. Essa madrugada foi uma das piores que já passamos, com crianças chorando, tomando chuva, madrugada escura, tivemos muito medo. Olhem os nossos barracos, são todos de lona e de pedaços de madeira. Até quando ficaremos nessa situação?”, questiona o trabalhador rural, Armindo.
Armindo Jorge Neto, de 30 anos pede casas para as famílias indígenas morarem com dignidade
Foto: Deurico/Capital News
Fome
Junto com ele, Claudemir Francisco, reclama da fome e do desespero em ter mais de 10 crianças no grupo indígena que não tem roupa de frio e comida suficiente para passar os próximos dias. “Nós dependemos da ajuda de vizinhos, de todos que possam ajudar. Não temos colchão, comida, roupas, lonas, precisamos de tudo que é essencial para a nossa sobrevivência. Cesta básica, qualquer coisa já ajuda, mas o principal é um teto para morar”, comenta Claudemir com os olhos marejados de lágrimas comentando a situação das famílias do assentamento.
Claudemir Francisco busca ajuda dos vizinhos para melhorar a situação da família
Foto: Deurico/Capital News
Dona Eliosílda Basílio de 46 anos que veio da aldeia Bananal de Aquidauana carrega um bebê no colo e não sabe o que dar a criança quando ela acordar. “Nós não esperávamos e nem escolhemos passar por isso. Estamos precisando de ajuda da prefeitura, seja de quem for. Não temos para onde ir, meu marido ganha muito pouco que vem da indústria aqui perto. Hoje mesmo não sei o que dar para essas crianças quando elas acordarem. Os bebês precisam de roupa, fralda e comida. Eles choram e pedimos para eles dormirem, assim a fome pode passar”, revelando a realidade das famílias que vivem neste local improvisado com barracos de lona e pedaços de madeira.
Dona Eliosílda Basílio de 46 anos se preocupa com alimentos as crianças do assentamento. Ao todo são 64 famílias
Foto: Deurico/Capital News
Barracos improvisados
A casa de Décio Mariano’ foi improvisada com lonas e pedaços de madeira mas convidou a equipe do Capital News para conhecer como são os dias e noites na comunidade. “Eu fiz o que pude para não chover e me proteger do sol e do frio aqui. Nós temos direito a essas terras também e nossos governantes tem essa responsabilidade de olhar para nós e nos dar essa ajuda. Queremos ser dignos e honestos, mas do jeito que está a situação só tende a piorar. Não sei se agüentaremos a próxima chuva”, comenta o indígena.
Décio Mariano improvisou o barraco com lona e pedaços de madeira
Foto: Deurico/Capital News
Com o marido desempregado, Luana Nascimento, de 19 anos tem três filhos busca ajuda dos vizinhos da região para alimentar seus filhos. “Eles choram, querem as coisas e não temos dinheiro para comprar. Eles não entendem mas nós fazemos o que podemos, comem pão seco e velho quando tem, e quando não tem torcemos para Deus nos ajudar”.
Luana Nascimento, de 19 anos tem três filhos e não sabe o que dar para as crianças comerem nos próximos dias com o marido desempregado
Foto: Deurico/Capital News
Dignidade e doações
Líder da comunidade, Val Eloi, 33 anos cobra providências urgentes para a situação das famílias indígenas após a visita da primeira-dama, Andréia Olarte, esposa do prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP). “Nós recebemos a primeira-dama aqui, a SAS, (secretaria de assistência social) esteve aqui e agora queremos uma posição rápida e definitiva. Não queremos nada além de dignidade, um espaço pra produzir e morar. Vamos continuar cobrando e esperando que as coisas agora comecem a melhorar para nós”, destaca a representante indígena. Para doações de roupas, alimentos, comida e lonas a líder da comunidade pede para entrar em contato através do telefone: (67) - 9280-5702 e (67) 9678-4454.
Líder da comunidade, Val Eloi, 33 anos cobra autoridades e responsabiliza poder público pela situação dos índios
Foto: Deurico/Capital News
Cobrança do poder público
Os estudos para a construção da quinta aldeia urbana de Campo Grande foram anunciados pelo prefeito de Campo Grande Gilmar Olarte (PP) no dia 6 de junho durante reunião com membros do Conselho Municipal dos Direitos e Defesa dos Povos Indígenas, onde confirmou possibilidade de implantar a aldeia no Indubrasil, com base em estudos. Enquanto isso os indígenas aguardam uma posição para mudarem essa situação. Atualmente, existem quatro aldeias urbanas em Campo Grande: Água Bonita e Tarsila do Amaral, na região do Segredo, Darcy Ribeiro, na região do Prosa e Marçal de Souza, na região do Anhanduizinho. A população de indígenas na Capital é estimada em 10 mil pelas lideranças das etnias.
Índios constroem barracos para se proteger do frio
Foto: Deurico/Capital News
Barracos desabam em meio a ventos e chuva no bairro Santa Mônica em Campo Grande
Foto: Deurico/Capital News
Homens levantam barracos para se proteger da chuva e do frio
Foto: Deurico/Capital News