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ENTREVISTA Terça-feira, 11 de Outubro de 2011, 08:30 - A | A

Terça-feira, 11 de Outubro de 2011, 08h:30 - A | A

MS 34 anos: “O momento político foi injusto comigo”, reclama Zeca do PT

Valdelice Bonifácio - Capital News (www.capitalnews.com.br)

“Coragem pra mudar”. Foi com este discurso que o bancário e sindicalista José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, tornou-se o 9º governador de Mato Grosso do Sul.

Nas eleições de 1998, elegeu-se pela primeira vez para o comando do Estado vencendo figurões como o ex-governador Pedro Pedrossian, um mito da política local.

Quatro anos depois reelegeu-se. Para ele, sua eleição teve o mérito de romper o ciclo de “revezamento das elites no poder” e derrubar antigos conceitos como o predomínio do binômio soja-boi na economia local.

Nestes 34 anos da criação de Mato Grosso do Sul, Zeca atualmente com 61 anos revela que teve pouco envolvimento na divisão do Mato Grosso uno. Contudo, avalia que a surgimento do novo Estado correspondeu ao desejo da época.

Pela primeira vez, Zeca admite que a relação de amizade com o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva não o favoreceu como ele esperava. Seu sucessor e principal adversário político, André Puccinelli (PMDB) teve mais sorte.

Além da conversa com Zeca do PT, o Capital News publica hoje as entrevistas com Marcelo Miranda, Pedro Pedrossian e André Puccinelli (PMDB), como forma de celebrar a data histórica da criação de MS.

Todos garavaram mensagens que podem ser acessadas ao final desta página.

Capital News -- De lado o senhor estava na época de divisão do Mato Grosso Uno?

Zeca do PT – Eu acho que eu era a favor. Eu estava retornando ao Mato Grosso do Sul. Não estava vinculado a este debate. Eu saí de Porto Murtinho em 1977 já como bancário do Banco do Brasil para ir para o interior São Paulo. Quando dividiu o Estado eu estava indo embora. Cheguei aqui quando estava ocorrendo a implantação do Estado. Eu tenho pouca participação neste processo. Mas, foi uma luta centenária e o discurso que emplacou foi o da residência daqueles que diziam que o Sul rico arrecadava para sustentar o Norte pobre.

Capital News - Mas quando o senhor retornou e percebeu que a divisão era um fato consumado, como reagiu?

Zeca do PT – Eu percebia muita motivação muita confiança. Acredito que não é um ato fácil. Mas eu via muita motivação, e compartilhava deste sentimento, embora não entendesse direito. Minha luta não era essa. Eu estava me iniciando na luta ideológica no PT e nos movimentos sociais. Eu achava que era um fato importante porque o tamanho territorial era muito grande. Mas, diminuir foi interessante para potencializar melhor as riquezas de cada região.

Capital News – O senhor acha que nestes 34 anos, Mato Grosso do Sul se desenvolveu como se esperava?

Zeca do PT -- Não. Nós tivemos um problema na minha avaliação. Foi a preservação das velhas oligarquias, dos velhos grupos. De um lado havia o “wilsismo” e do outro o “pedrismo”. Se você pegar a história do Estado, verá que só mudou alguma coisa com a minha chegada ao governo, com a chegada do PT. O Estado foi criado em 1977 e olha só a sequencia: primeiro nomearam o Harry Amorim e aí tiraram e colocaram o Marcelo Miranda, depois nomearam o Pedro Pedrossian. Em 1982 elegeram o Wilson Martins. Em 1986, elegeram o Marcelo. Em 1990 elegeram o Pedro. Quatro anos depois, foi eleito o Wilson novamente. Veja que tem um revezamento de quase 20 anos entre Marcelo, Pedro e Wilson. Este processo de revezamento das elites que não apresentaram nada de novo, gerou um inconformismo e uma insatisfação muito grande. Em 1998, isso deságua num grande anseio de mudança. Nós tivemos só a capacidade de perceber isso e construir um discurso de mudança para ganhar as eleições.

Capital News – O que senhor destacaria como principais realizações de seus oito anos de governo?

Zeca do PT – Três coisas que contribuíram para mudança da história e dos referenciais de desenvolvimento do Estado. Até por esta briga das elites, o Estado durante 20 anos, de 1979 a 1999, se sustentou do discurso da polarização do boi e soja. Com a nossa chegada ao governo esse referencial se amplia. Preservamos o boi e a soja como um ativo importante do ponto de vista das riquezas do Estado. Mas, iniciamos um novo ciclo. O ciclo da industrialização. Esse foi o primeiro marco do nosso governo com a vinda de centenas de empresas. O símbolo foi a International Paper que eu não inaugurei. Quando inaugurou eu já estava fora do governo, o Lula me chamou e eu fui a Três Lagoas. No discurso, ele mencionou que eu estive no gabinete dele pedindo apoio para trazer a indústria para cá. Ele disse até que pensou que estava louco. Foi uma articulação minha. Eu fui à Carolina do Sul. Trouxemos a empresa para cá com o apoio do governo Lula que concedeu os incentivos. Quando eu assumi o governo em 1999, o Estado tinha seis usinas de álcool e açúcar. Quando saí, oito anos depois, havia 22 plantas de usinas construídas e em implantação.

Capital News – O segundo elemento importante qual seria?

Zeca do PT – O desenvolvimento de políticas sociais. O Estado deixava a mercê grande parcela da população. Em oito anos criamos programas que o Lula copiou para adotar nacionalmente, como o Segurança Alimentar, Bolsa Escola, Bolsa Escola, Banco do Povo, o Cursinho Popular. Foram programas que levaram dignidade a 70 mil famílias. Sem nenhum centavo do governo federal diferente do que ocorre hoje.

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Zeca reitera que a implantação de políticas sociais foi um dos pontos altos de seu governo
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – E o terceiro?

Zeca do PT – O respeito ao servidor público. Quando recebi o Estado, o governo devia quatro folhas de pagamento aos servidores. No primeiro ano, pagamos as 12 folhas normais, o 13º salário e mais quatro. Ou seja, no primeiro ano pagamos 17 folhas de pagamento. Então, a industrialização, as ações sociais e o respeito ao servidor são três elementos que mudaram a casa do Mato Grosso do Sul.

Capital News – O senhor se arrepende de algo? Ou faria algo diferente do que fez nos dois governos?

Zeca do PT --  Não me arrependo. Acho que o momento político foi injusto comigo. Eu me arrependo de não ter pego tanto dinheiro como o governo do André pegou no primeiro mandato dele com o Lula. Eu convivi com o Lula que era um amigo pessoal meu, no primeiro mandato dele. Ele estava arrumando as coisas nacionalmente. Quando saio, o Brasil com o crescimento que tinha distribui dinheiro do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e tudo mais para todos os estados. Eu infelizmente, por razões da vida, não tive a oportunidade.

Capital News – O senhor guarda alguma mágoa dos embates que teve durante governo do Estado?

Zeca do PT – Eu não tenho nenhuma mágoa. Foi um momento da minha vida. Não tenho ilusões. Eu sou um homem temente a Deus. Entendo que foi uma missão. Cumpri saí da cabeça erguida. As pessoas me mandam bilhetinhos, pedindo para eu voltar.

Capital News – Com isso, o senhor se sente estimulado a concorrer a novas eleições?

Zeca do PT – Eu acho que cumpri o meu papel. Não pretendo voltar. Eu abri mão de outras perspectivas de mandatos. Eu poderia ser senador se eu quisesse, abri mão. Eu gosto de desafios. Elegi-me deputado estadual pelo PT quando ninguém acreditava. Se eu quisesse, eu seria como o Jerson Domingos ou o Londres Machado, um medíocre desses aí que fica 40 anos em mandato. Eu não. Eu tive dois mandatos de deputado estadual. Cheguei para o Lula e disse quero ser governador. Ele não acreditou. Disputei e venci. Não quero mais. Até o Lula queria que eu fosse senador. Não quis.

Capital News – O que o senhor quer agora?

Zeca do PT – Agora, estou encarando outro desafio que é me situar na iniciativa privada. Começando do zero aos 60 anos de idade.

Capital News – Tem gente que aposta tudo que o senhor vai ser candidato a prefeito.

Zeca do PT – Eu coloquei meu nome à disposição. Mas, apresentei condições. Quero ser consenso e ter o PT unido. Na segunda, dia 17, devo anunciar minha decisão.

Capital News – Pontos fortes e fracos do Estado?

Zeca do PT – Forte é a localização geográfica. A fronteira com cinco estados significa um mercado consumidor muito grande para explorar. Há ainda dois países do Mercosul, Paraguai e Bolívia. Além de duas hidrovias estratégicas, Paraná e Paraguai, que nos permite fazer um transporte intermodal, ou seja, ferrovia, hidrovia e rodovias. Isso nos dá condições competitivas. Há oitos anos quando começamos discutir a ligação bioceânica, diziam que eu estava louco. Sair pelo Pacífico significa encurtar em sete mil quilômetros a ligação para o mercado asiático onde tem três bilhões de pessoas para consumir.

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Para Zeca, a localização geográfica na divisa com 5 estados e 2 países é um ponto forte de MS
Foto: Deurico/Capital News

Capital News – E o Ponto fraco?

Zeca do PT – Foi a questão política. O revezamento das elites que nos atrasou.

Capital News – O senhor continua favorável à mudança de nome do Estado?

Zeca do PT – Sou absolutamente favorável. É um equívoco o Estado não debater isso com profundidade. As pessoas não se conformam mais com esta falta de identidade. Há você é do Mato Grosso? Nós estamos perdendo dinheiro. Quando governador, fui à Inglaterra e o embaixador que era amigo meu marcou uma reunião com agências de turismo. Eles disseram que era necessário fazer alguma coisa. Porque as pessoas pedem para visitar o Pantanal no Mato Grosso. Eles não sabem que houve a divisão e que Mato Grosso do Sul tem dois terços do Pantanal. É mentira isso que vai gastar dinheiro. Não vai não. Teria que trocar. Pergunte para as pessoas se são favoráveis. Se a maioria for, sugiram alternativas de nomes, como Estado do Pantanal, Estado de Campo Grande, Estado de Dourados, Estado de Maracaju, sei lá. Temos que fazer um plebiscito. O povo tem que ser consultado. Mas, tem que haver também um processo de debate e de esclarecimento.

Capital News – O que o senhor apontaria como grande desafio do Estado?

Zeca do PT – Acho que explorar mais e melhor a questão de Turismo. Mapear isso direitinho. Talvez até esteja sendo feito. Não é só Pantanal. Não é só Bonito. Há também a região de Costa Rica e outras com potencial turístico. Só explorar o turismo de pesca é pouco. Temos muito mais para oferecer. 

Vídeo

 

Veja abaixo as demais entrevistas produzidas especialmente para a data

Marcelo Miranda SoaresMS 34 anos: "Aceitar a nomeação para governar o novo Estado foi um erro", diz Marcelo Miranda

Pedro PedrossianMS 34 anos: "Estado novo nasceu com espírito de velho", relembra Pedro Pedrossian

André PuccinelliMS 34 anos: "Maior desafio é conquistar um equilíbrio financeiro definitivo", aponta Puccinelli  

 

Por Valdelice Bonifácio - Capital News (www.capitalnews.com.br)

 

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