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Domingo, 12 de Maio de 2019, 12h:49

Uma viagem pela vida de Wolfgang Mozart em três cidades europeias

Por Raphael Granucci

Da coluna Viagens
Artigo de responsabilidade do autor

Em Salzburgo, Viena e Brno, na República Tcheca, um dos compositores mais famosos de todos os tempos viveu os principais momentos de sua carreira

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Salzburgo, Austria

Algumas cidades emitem uma energia própria. Salzburgo, na Áustria (288 km de Viena), é uma delas: há uma grande dose de sofisticação e de música no ar do pequeno município que, por ter um jeito próprio de celebrar sua cultura, ficou famosa no mundo inteiro.

Todos os anos acontece ali o Salzburg Festival, em que a cidade revive os tempos em que abrigou por vários momentos distintos seu filho mais ilustre: o compositor Wolfgang Amadeus Mozart. É um dos principais eventos musicais da Europa por ter sempre grandes compositores, cantores, musicistas, maestros e atores do mundo se apresentando em frente à bela catedral local, numa das praças públicas mais bonitas da Áustria.

Em 2019, o festival teve uma apresentação da soprano russa Anna Netrebko e do maestro italiano da Orquestra Sinfônica de Chicago, Riccardo Muti. Companhias austríacas fizeram campanhas de passagens aéreas em promoção, os hotéis registraram lotação máxima e muitas pessoas de regiões e países vizinhos viajaram à cidade apenas para assistir às apresentações.

O encontro anual celebra o nascimento de Mozart e acontece sempre entre janeiro e fevereiro, organizado pelo Mozarteum Foundation -- em 2020, um dos planos da instituição é apresentar um concerto da peça O casamento de Fígaro tocado pela Filarmônica de Viena. No entanto, a Áustria possui mais coisas para contar sobre um dos seus filhos famosos -- assim como os países vizinhos. A seguir, contamos sobre alguns deles.

Hagenauer Haus, Salzburgo, Áustría
Em 1747, o compositor e músico da corte de Salzburgo, Leopold Mozart se mudou com sua jovem esposa, Anna Maria, para o terceiro andar de um prédio no número 9 da Rua Getreidegasse. Foi ali, em janeiro de 1756, que nasceu seu filho mais novo, Wolfgang Amadeus Mozart, depois que ela já tinha passado por sete partos -- e dos quais apenas uma criança havia sobrevivido, Maria Anna, irmã mais velha de Wolfgang.

Muitos anos depois da vida da família Mozart, a casa se tornou local de peregrinação para turistas e fãs do compositor, e em 1880 se tornou a International Mozarteum Foundation, um museu dedicado a ele que reúne relíquias como um violino que ele tocava quando criança e o piano com o qual escreveu a clássica peça A Flauta Mágica.

Catedral de Salzburgo, Áustria
No dia seguinte ao nascimento de Wolfgang, seus pais levaram-no para a catedral barroca da cidade para batizá-lo. Na fonte em que também fora celebrado o nascimento de Joseph Mohr -- o autor da letra da famosa canção Noite Feliz --, o pequeno Mozart recebeu a benção do arcebispo de Salzburgo, que também era o patrão de Leopold, em uma cerimônia simples.

A igreja ainda viu, anos depois, um adolescente Mozart ser seu organista, assim como o recebeu de volta após uma longa turnê pelas cortes europeias em que, se apresentando para os nobres de várias partes do continente em busca de uma contratação, ele não conseguiu mais do que ser reverenciado pelo seu talento com elogios e aplausos.

Em Sociologia de um gênio, o filósofo alemão Norbert Elias conta que o retorno a Salzburgo após quase uma década sonhando em ser um músico das prestigiadas cortes de Paris e de Londres foi traumático para Mozart, e não à toa culminou no seu pedido de demissão e na mudança dramática para Viena, onde morreria precocemente.

A catedral, que hoje recebe o Salzburg Festival, também foi o local em que ele apresentou a Krönungsmesse, 15ª missa de sua carreira, diante de um pequeno séquito de religiosos da cidade. Hoje, na praça em frente ao templo, Salzburgo organiza sempre a exibição de alguma das composições de Mozart -- seja para grandes platéias de turistas ou para os moradores.

Palácio Schönbrunn, Viena
O talento musical precoce do pequeno Mozart era evidente, e logo seu pai se encarregou de exibi-lo perante o mundo. Para ele, Salzburgo era muito provinciana para o jovem gênio que tinha em casa. Assim, em outubro de 1762, ele levou Wolfgang, então com seis anos, e sua irmã Maria, ao retiro imperial de verão da dinastia Habsburgo: o Palácio Schönbrunn, à época localizado alguns quilômetros do centro de Viena, capital do império.

Viajar naquela época era extremamente desgastante, não apenas porque as charretes (diligências) não eram seguras, mas porque as estradas de terra eram empoeiradas no verão e congeladas no inverno. Ainda assim, Leopold aceitou o convite acreditando que aquela era a grande chance de sua família.

Em Viena, os boatos sobre Wolfgang pipocavam: o menino que se apresentaria na corte era um gênio, e foi por isso que o imperador Franz e sua esposa Maria Teresa estavam ansiosos por sua apresentação marcada para o famoso Spiegelsaal (Salão dos Espelhos) do Schönbrunn. O concerto foi um sucesso e, segundo conta a história, o compositor da corte de Habsburgo, Christoph Wagenseil, disse à criança que o que vira ali era um "músico de verdade".

Mais do que o elogio, a apresentação rendeu um bom dinheiro para a família, que voltou a Salzburgo sonhando com uma colocação em breve na corte do imperador. Hoje, a residência grandiosa é um patrimônio mundial da Unesco, braço da ONU para a cultura, e atrai milhares de turistas todos os anos como uma Versalhes do Leste Europeu.

Brno, República Tcheca
Depois de circular por várias cortes europeias como um prodígio da música, o jovem Mozart já tinha se adaptado à vida na estrada. No entanto, no final de 1767, ele precisou sair da Áustria por necessidade: um surto de varíola em Viena forçou sua família a se mudar provisoriamente para Brno, na atual República Tcheca (a 211 km da capital Praga). No trajeto, ainda na cidade de Olomouc, o pai percebeu que era tarde: seu filho estava doente.

A família Mozart resolveu ficar em Brno até a recuperação do menino, que só aconteceu meses depois, quando ele agradeceu a recepção local com um concerto ao lado da irmã no Teatro Taverna (agora chamado de Redunda), em dezembro de 1767. Hoje há uma estátua do jovem Mozart, erguida em 2008, comemorando o tempo em que viveu ali.

Abadia de St. Peter, Salzburgo, Áustria
Quando o filho de ouro da família Mozart se tornou abade do monastério beneditino de Salzburgo, aos 13 anos de idade, ele compôs a missa Dominicus para marcar a ocasião. Anos depois, em 1783, partes da composição incompleta do então garoto foram reunidas e apresentadas por ele mesmo na abadia de St. Peter, em sua cidade-natal. Por isso, é outro templo religioso do pequeno município que recebe milhares de turistas todos os anos. O local ainda ficou marcado por ter sido o lugar em que a irmã de Mozart, Maria, foi enterrada após sua morte, em 1829.

Tanzmeisterhaus, Salzburgo, Áustria
O Tanzmeisterhaus ("Casa de dança"), em Salzburgo, tem esse nome porque era o lugar em que os aristocratas da corte local tinham aulas de dança, e foi um local fértil para as composições de Mozart. Depois de se mudar com sua família, em 1773, foi ali que ele criou algumas de suas sinfonias, concertos, missas e óperas como Il re pastore e partes de duas das mais famosas obras de sua vida: La finta giardiniera e Idonomeo.

Depois de ser incendiado durante a Segunda Guerra Mundial, o Tanzmeisterhaus foi reconstruído e aberto novamente em homenagem ao escritor, em 1996, como o Mozart Residence Museum.

Catedral de St. Stephen, Viena, Áustria
A imponente estrutura gótica e romanesca da catedral de St. Stephen, que hoje atrai milhões de turistas todos os anos a Viena, tem uma história importante na música: foi nela que o compositor Joseph Haydn começou a cantar, ainda criança, no coro do arcebispo da cidade. Ali foi também onde Mozart viveu um dos momentos fundamentais de sua vida: o palco de seu casamento com Constanze Weber, um dia antes de receber o consentimento do seu pai por meio de uma carta, em 1782.

Depois, ele ainda foi diretor musical da igreja por um curto período de tempo, batizou seus dois filhos com Constanze ali e, para o delírio de qualquer fã atual, foi no templo onde aconteceu seu funeral, ao som do clássico Réquiem que ele mesmo escreveu.

Apartamento da Rua Domgasse, Viena, Áustria
Provavelmente a residência mais luxuosa da vida de Mozart (e a única em que viveu em Viena), ele levou sua família para viver no apartamento da Rua Domgasse, número 5, em 1784, onde passaria os seus últimos dois anos de vida. Mais significativo, foi onde ele escreveu toda a peça O casamento de Fígaro e três partes do quartetos de cordas de Haydn. Hoje funciona ali o Mozarthaus Vienna Museum.

A casa da Flauta Mágica, Salzburgo, Áustria
Os historiadores dizem que, em 1791, um furioso Mozart escreveu de uma só vez a peça A Flauta Mágica em uma estrutura barroca que ficava perto do Teatro de Viena (Auf Der Wieden), incentivado a todo instante pelo seu libretista Emanuel Schikaneder, que o cobria de ostras e vinho durante o processo de composição. Em 1873, a estrutura foi legada à  International Mozarteum Foundation, em Salzburgo, viajando da capital do império até sua cidade-natal para adornar os jardins do apartamento onde nasceu -- ela fica fica aberta o ano todo para visitação dos turistas.