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ENTREVISTA Sábado, 29 de Março de 2014, 11:11 - A | A

Sábado, 29 de Março de 2014, 11h:11 - A | A

‘A Expogrande entrou no calendário cultural, não pertence mais a Acrissul, ela é da cidade’, diz Maia

Juliana Rezende - Capital News (www.capitalnews.com.br)

À frente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) há cinco anos, Francisco Maia abraçou uma das entidades responsáveis pela classe produtora do Estado. Alagoano da cidade de Palmeira dos Índios, Francisco veio para Mato Grosso do Sul em 1968 e se instalou primeiramente na cidade de Ponta Porã, onde em 1973 mudou-se para Campo Grande. Casado e pai de dois filhos, Chico Maia, como é chamado, é bacharel em Direito, produtor rural e empresário do setor de mídia exterior. Ao Capital News, Chico relatou em entrevista, detalhes da Expogrande 2014, hoje reconhecida como uma das maiores feiras do setor agropecuário, e mencionou a luta dos produtores rurais na questão dos conflitos com indígenas.

“A Acrissul é uma entidade que tem uma história e o dever de não ficar discutindo apenas as questões atinentes ao seu mundo, em volta de seu próprio umbigo. Estamos antenados com os movimentos nacionais, com a expectativa da população e durante este momento eleitoral nós iremos discutir com a classe política sobre o que pensamos. Estamos aqui prontos para, através das discussões, eleger os representantes que têm compromissos com as nossas causas e nossos temas”.

Capital News: O que o público pode esperar desta edição da Expogrande?

Chico Maia: Para cidade e para o público nós temos um calendário extenso, com shows de primeira linha, com os maiores artistas nacionais, selecionados a partir de pesquisa. Teremos muitas atrações, como espaço para as famílias e crianças, com animais para serem observados e barraca e também restaurantes. Receberemos também em torno de seis mil estudantes da rede pública, para eles interagirem e receberem informação sobre a importância da atividade pecuária. É uma festa da cidade que mobiliza as riquezas do Estado e causa um impacto muito forte na nossa economia, além de trazer um pouco de alegria para essa cidade que não tem praia, então costuma-se dizer que a Expogrande é a grande praia do campo-grandense.

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Durante entrevista Maia disse que a Expogrande é a 'praia' dos campo-grandenses, se referindo a empolgação da festa
Foto: Deurico/Capital News

Capital News : O que o produtor rural verá de novidade na feira agropecuária?

Chico Maia: Temos algo inédito que é a realização de um Dia de Campo. Vamos levar a Acrissul em uma fazenda no Pantanal para mostrar que é possível, mesmo com todas as dificuldades que a região tem, você desenvolver uma pecuária de resultado, onde se desmama um bezerro com 350 quilos e leva ele para o frigorífico aos 15 meses com 20 arrobas, sem que com isso você tenha muitos investimentos, sendo alcançado na simples prática,manejo e capricho do produtor rural. Então nós queremos que esse exemplo do produtor Higino Hernandes da Fazenda Baía Grande sirva de motivação para que os proprietários rurais da região do Pantanal façam o mesmo. Pois o grande desafio hoje do empresariado brasileiro é a luta constante e incessante pela qualidade. Nós não somos mais um país que temos que ser o maior do mundo naquilo que faz, nós temos que ser o melhor naquilo que se pratica. E esse Dia de Campo é exatamente para melhorar o produtor rural.

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Para a Acrissul, feira é a integração da população urbana com o povo rural
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Quem será o grande homenageado durante o lançamento da Expogrande ?

Chico Maia: Vamos homenagear durante o lançamento um dos homens que foi um dos símbolos de luta em defesa do agronegócio brasileiro e do direito de propriedade, Eduardo Machado Metello, ex-presidente da Acrissul. Ele será imortalizado pelos Correios com um selo. Eduardo Metello foi um grande criador de gado Nelore, foi o produtor que teve o maior número de gado registrado na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), foi professor universitário com uma grande formação e conhecimento jurídico. Ele defendia muitos valores, princípios e o direito das propriedades, ele defendia a bandeira do produtor como poucos e suas palavras e atitudes mobilizou a classe em cima de temas muito importantes. Ele virou referência e teve reconhecimento nacional.

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Produtor rural será homenageado durante lançamento da Expogrande
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Qual a importância da feira para a economia de Mato Grosso do Sul?

Chico Maia: É o maior evento econômico do Estado, para se ter ideia, durante a Expogrande 2 mil caminhões boiadeiros chegam com gado e saem nestes dez dias. Os bancos de primeira linha disponibilizaram em torno de R$ 150 milhões de créditos na última feira, então é um evento que movimenta em torno de R$ 200 milhões, sem falar que quando existem os grandes shows, a sociedade, os jovens, vão aos shoppings para comprar roupas como se fossem ver seus namorados para ver os grandes artistas. Então isso fomenta o comércio, o setor hoteleiro, os restaurantes a cidade de uma forma em geral. A feira é um grande aquecedor da economia. Para esta edição da feira esperamos comercializar 20 mil cabeças, além de aquisição de tratores, máquinas e equipamentos tecnológicos que se usa na atividade rural.

Capital News: Os shows já foram confirmados, mas como fica a questão da Lei do Silêncio? A Acrissul já fez as adequações necessárias?

Chico Maia: Já tivemos reunião com o secretário Edil Albuquerque, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e Agronegócio (Sedesc), que reuniu em seu gabinete todas as secretarias e nós desde já estamos trabalhando a quatro mãos para reduzir impactos. Como se sabe a Expogrande passou a ser uma festa que passou a ser do calendário cultural, então a feira não pertence mais a Acrissul, ela é da cidade e como tal deve ser de interesse de todos e estamos trabalhando com a Prefeitura, que nos dará o alvará e a licença ambiental para fazermos uma feira sem problemas, pois problemas já temos demais, não precisa se criar novos. Há três anos as feiras já acontecem dentro de horários que não incomodam as pessoas. É bom que se diga que através de pesquisa realizada, 85% da população do bairro Jóquei Clube defendeu a realização da feira. Então o evento só incomoda quem não mora por perto.

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Detalhes para a liberação dos shows estão sendo feitos junto à Prefeitura Municipal
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: A Acrissul já definiu o valor dos ingressos?

Chico Maia: Os shows da Expogrande são preços de cinema, sempre foram. Deve ter um show ou outro que tenha um valor a mais que o ingresso de cinema. Os valores são acessíveis à população, tanto é que nós acreditamos que teremos shows com até 50 mil pessoas, ainda mais pelo fato de um deles ocorrer na véspera de um feriado nacional e acreditamos que esse parque volte a ter shows como de tempos áureos, como foi o de Luan Santana, Victor e Léo e Bruno e Marrone. A grade de shows está muito boa, os empresários se esforçaram bastante e esperamos que a população curta a alegria e continue frequentando esta casa. Durante esses dez dias é bom você ver a população integrada com o povo rural, essa é a nossa cultura, essa é a nossa raiz.

Capital News: As mudanças ocorridas na Prefeitura Municipal de Campo interferiram na realização da Expogrande?

Chico Maia: A realização da Expogrande não se trata de termos relação com A ou com B, é uma festa da cidade, seja quem for o prefeito nós entendemos que ele tem que priorizar, pois aqui se gera milhares de empregos.Também teremos cerca de 300 mil pessoas pulsando, vivendo e aqui também se realiza negociações em torno de R$150 milhões. É uma forma do Poder Público reconhecer o extraordinário trabalho dos produtores rurais. Para nós essa questão de quem está no poder nunca foi um problema. Mas acredito que o prefeito Gilmar Olarte (PP) tenha começado de uma forma positiva. Ele reuniu todo o seu secretariado conosco e nós entendemos que quanto menos ruído melhor, pois já temos muitas dificuldades para realizar uma feira e não precisamos de mais obstáculos na nossa frente. Entendemos que essa atitude do novo prefeito e a atitude do secretário Edil, de reunir toda sua equipe e discutirmos com cada pasta o que cabe a cada um para nos dar o alvará e o licenciamento ambiental está sendo feito. Acho que é uma forma sábia e construtiva que a administração está tendo. Mas nós nunca tivemos problemas com o prefeito anterior.

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Para o presidente da Acrissul, não importa quem está no poder, e o importante é dar prioridade para a o evento, que entrou para o calendário cultural
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Em números, quantos reais a Acrissul espera movimentar na edição 2014 da Expogrande?

Chico Maia: Se nós mantivermos os números do ano passado será algo entre R$ 150 ou 160 milhões.

Capital News: Responsáveis por alavancar os resultados financeiros do evento, quantos leilões serão realizados este ano na feira?

Chico Maia: Teremos em torno de 40 leilões, na sua grande maioria, leilão de gado de corte, acima de 20 mil cabeças de boi é o esperado. Sem falar de equinos, ovinos e pequenos animais.

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Chico Maia disse que possibilidade da vinda do ministro da Justiça foi levantada pelo senador do PT Delcídio do Amaral
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Sobre a ocupação de indígenas nas fazendas da região Buriti, qual a visão do produtor rural sobre o cenário que se formou no Estado após estes conflitos? O assunto será debatido na Expogrande?

Chico Maia: Não só debatido, mas com a possibilidade do Ministro da Justiça vir aqui na feira e anunciar a aquisição das terras da Buriti. Em reunião com o senador Delcídio do Amaral (PT), ele nos afirmou que teve um encontro com o ministro, e o mesmo demonstrou a intenção de vir a Campo Grande durante a Exposição e fechar negócio com os produtores. Para nós, se isto acontecer, será o grande show da Expogrande. É a paz definitiva e o início de um caminho de paz entre índios e produtores, que ambas as partes querem trabalhar em paz.

Capital News: Além do Fundersul, quais as maiores queixas dos produtores rurais de MS?

Chico Maia: A Acrissul soma-se às maiores entidades nacionais que entende que o maior problema do país hoje é o custo Brasil, é a alta carga tributária. Hoje custa muito caro ser brasileiro, você paga 40% de tudo que você ganha para sustentar a máquina pública, onde 156 dias do ano o cidadão trabalha para o governo, para pagar impostos. Estamos perdendo a competitividade internacional, os nossos produtos estão perdendo mercado porque é caro produzir. No caso do agronegócio o Fundersul é uma pedra no nosso sapato, porque só dois Estados na Federação têm o Fundersul: Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Se nós vemos o governo anunciar constantemente na mídia que o Mato Grosso do Sul é forte então está na hora de ceder um pouco para nós produtores que estamos fracos. Então essa lógica de que governar é construir obras é uma coisa que já ficou para trás. A grande função de um governo agora é fazer com que o Estado fique enxuto, fique mínimo, que o Estado não seja gastador demais e o Fundersul está exatamente na contramão daquilo que nós pregamos. O tributo será uma bandeira da nossa entidade, já é, mas nós deveremos agora conversar com os futuros candidatos a governador e outros políticos. Quem quiser ter o apoio desta Casa precisa começar a pensar que diminuir o custo Brasil e a carga tributária é fundamental, nós somos radicalmente contra o Fundersul. MS é um dos Estados na Federação que tem a maior carga tributária do país, aqui a energia é mais cara, o combustível é mais caro, e aqui o custo de se produzir é mais caro, o que faz mal para o comércio, para a indústria e para o cidadão de uma forma geral.

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Fim do Fundersul é uma das bandeiras da classe produtora, assegurou o presidente da Acrissul
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: A União já sinalizou que indenizará os produtores rurais da região do Buriti, mas como está a análise dos relatórios?

Chico Maia: Devemos ter consciência que isto não é um processo simples, se fosse simples não se arrastaria ao longo de um século. É um processo de décadas que se estende no Estado e que todos os governos vêm levando com a barriga. A Acrissul esteve à frente desse movimento e resolveu ir a Brasília brigar, lutar, reunir as forças do país e chegamos a um ponto espetacular que é de o governo tentar adquirir essas terras, porque tem um impedimento constitucional onde a Terra Nua é da União, mas o governo entendeu e já decidiu que como nós somos possuidores legítimos das nossas áreas e não tem terra devoluta nem grilada, foram terras adquiridas de uma forma legal, então o governo vai comprar a Terra Nua e indenizar as benfeitorias por justo valor de mercado. A União fez sua avaliação, há controvérsias, agora cabe aos produtores concluir os seus estudos, que estão bem adiantados, e aí é apenas uma questão de bater o martelo e fechar negócio. Agora existe vontade política e com isso estamos implantando no Brasil um dispositivo de condições para começar a avançar nessa questão de terras indígenas, então Mato Grosso do Sul será um Estado referência. Aquilo que for adotado aqui, os critérios e a metodologia adotadas nas terras da Buriti, serão usados para nós seguirmos o cronograma na questão dos Guaranis, e em outra área conflituosa existente em Antônio João, Miranda e outros municípios.

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Cel Waldemiro 14/04/2014

Dizer que a festa agora é da população brincar com a nossa capacidade de discernimento. O que o povo precisa é de saúde, saneamento básico e educação de qualidade, e isto é o dever do estado. Desviar dinheiro público para bancar festa particular alem de ilegal, é imoral. Mas como até o ministério público recebe subvenção do governo o povo vai continuar assistindo aos desmandos, até porque não são poucos integrantes deste governo que tem carteirinha da acrissul.

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ivan 06/04/2014

E o Bernal vai na exposição

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2 comentários

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