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Reportagem Especial Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2013, 17:52 - A | A

Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2013, 17h:52 - A | A

Palhaços transformam ambiente de hospital para amenizar sofrimento de crianças internadas

Bruno Chaves - Capital News (www.capitalnews.com.br)

Um projeto que tem como filosofia a solidariedade para com crianças hospitalizadas vem ganhando espaço no tratamento médico dos pequenos internados. Os Doutores Palhaço (sic), desenvolvido no Centro de Tratamento Onco-Hematológico Infantil do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (Cetohi-HRMS), referência em tratamento do câncer infantil no Estado, leva mais alegria e felicidade às crianças internadas em Campo Grande.

O projeto é coordenado pela psicóloga da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC), Claudia Pinho, e conta com o apoio da ONG Psicólogos sem Fronteira. Desde 2010, os voluntários atuam em três setores do HRMS, Cetohi, Pediatria e CTI Infantil, levando mais vida aos pequenos internados. As visitas acontecem de duas as três vezes por semana, sendo que a maioria acontece nos fins de semana.

“A ação dos palhaços não acrescenta mais anos de vida às crianças, mas sim, mais vida aos anos”, garante a advogada Natália, de 23 anos, que trabalha como voluntária dos Doutores Palhaço (sic).

A jovem, que estava caracteriza de Doutora Necas de Pitibiriba, foi uma das quatro voluntárias que conversou com o Capital News neste sábado (16) antes da realização de uma ação. Todas elas estavam com jalecos brancos e objetos de palhaço, prontas para entrar em ação.

“A gente trabalha com alegria”, comenta a voluntária Érica Pinto Nogueira, de 42 anos, que é engenheira civil. Ela é a Doutora Iris Bina Florinda que lembra: “também temos a perda, por isso contamos com o suporte psicológico da Claudinha”, se referindo a coordenadora do projeto.

Todas estavam muito entusiasmadas em encontrar as crianças. Elas conversavam, explicavam e sorriam. Sempre lembrando dos ensinamento aprendidos com a coordenadora, Claudinha.

A servidora pública Diani Pereira ia fazer seu primeiro atendimento como Doutora Chik Istriki. “Quase não dormi de ansiedade. Estou um pouco tímida, mas animada. O trabalho voluntário é uma gratificação pessoal”, conta Diani.

“A maior satisfação é quando a criança começa a sorrir. Isso muda nosso dia. A gente ganha mais do que a própria criança que está ali, alegre com nossas ações. Não tem o que paga. É muito emocionante”, demonstra a professora Andrielly Gonzaga, de 25 anos, que atua como a Doutora Risolândia.

Claudia Pinho lembra que os médicos respeitam a ação dos Doutores Palhaçoes e apoiam o projeto. “Antes eles não gostavam de ver um palhaço, vestido de médico, levando risada nos setores do hospital. Mas agora, eles respeitam nosso trabalho, sabem que é para o bem da criança e apoiam”, comenta.

Para a Doutora Necas de Pitibira, o trabalho dos Doutores Palhaço “resgata a criança porque relembra a infância, as brincadeiras e a alegria de viver. No hospital, tudo é obrigatório, a medicação é obrigatória, o banho é obrigatório, a internação é obrigatória. Mas a visita do palhaço não é. A criança tem o poder do “não”. Tem o poder de decidir o que quer. Isso para ela [criança] é muito importante. É o poder da escolha”, declara.

Mas as voluntárias sabem que nem tudo no trabalho são flores. Elas sabem que lidam, na maioria das vezes, com crianças com câncer e procuram levar o melhor de si aos pequenos. “Somos orientadas a não chorar em frente às crianças. O nosso desabafo não pode ser em frente a elas e em frente aos pais”, explica a Doutora Risolândia.

“Eu já chorei porque fazia visitas frequentes a mesma criança, e quando voltei, fiquei sabendo que ela tinha falecido. Fiz meu trabalho, mas quando sai no estacionamento, chorei. Chorei no carro. Chorei em casa”, lembra emocionada.

A Doutora Neca intervém com a explicação: “o palhaço do hospital é o palhaço triste. É diferente do palhaço do teatro, do circo e do cinema. É um trabalho difícil porque trata com o câncer infantil. Temos que estar preparadas para a alegria com as crianças e para a tristeza, quando acontece uma perda.

Entretanto, a coordenadora acredita que “desenvolver esse trabalho é apaixonante. A sensação de ver que a criança está respondendo ao seu estímulo gera expectativa de vida e de futuro. É gratificante”, define Claudia.

“Só podemos dar o melhor para o outro, quando damos o melhor para nós mesmos”, finaliza.

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O grupo formado por quatro voluntárias acredita que é possível levar mais alegria aos pequenos internados em hospitais
Foto: Deurico/CapitalNews

Curso para Doutor Palhaço

Atualmente, existem 18 voluntários que trabalham como doutores palhaços em Campo Grande. A coordenadora do projeto, Claudia Pinho, explica que uma vez por ano abre turmas para capacitação de novos voluntários. Provavelmente, a seleção deste ano acontecerá em abril.

“Primeiramente a pessoa escreve uma carta de intenção dizendo por que quer ser um doutor palhaço. Posteriormente, ela recebe uma ficha de inscrição, passa por uma fase de seleção, entrevista, dinâmica e depois um curso de capacitação”, resume Claudia.

Ela ainda explica que para ser um doutor palhaço não precisa ser médico nem ser engraçado. O fundamental é “ter brilho no olhar e amar o próximo”.

“Muitas pessoas querem ser voluntárias, mas, muitas vezes, não estão em um momento certo na vida pessoal. Todos tem o dom, mas as vezes, não estão preparados. Por isso, para fazer parte do grupo, é necessária a seleção para ver quem está em um bom momento para assumir essa responsabilidade. A pessoa tem que ser centrada”, conta Claudia.

Ela diz que o curso é pago e tem um total de 20 vagas. “Mas nem todos que começam, concluem o curso”, comenta a coordenadora explicando que a ação dos voluntários é um trabalho sério que busca a percepção do outro.

O curso dura, em média, seis meses. Ele é composto por módulos que ensinam noções hospitalares, noções de higiene, oncologia e fonoaudiologia, além de artes do circo como malabaris, confecções, modelagens, oficina de teatros, entre outros.

“O doutor palhaço não é de festa”, lembra a coordenadora ressaltando a importância do projeto no tratamento médico da criança.

Todas as informações do projeto Doutores Palhaço (sic) se encontram na página do Facebook: http://www.facebook.com/pages/Doutores-Palha%C3%A7o/607861365906180. Quem não tiver acesso à rede social, pode enviar um email solicitando informações para [email protected].

Futuro

A intenção de Cláudia é formar mais voluntários para atender outros hospitais da cidade e o asilo São João Bosco. “Acredito que com a formação de novas turmas já será possível atender outros lugares”, comenta a coordenadora.

Da turma de 18 voluntários, 11 são de 2012. Em março, uma nova turma se forma. Com mais esse apoio, novas visitas estão quase confirmadas.

A coordenadora ainda lembra que possível ampliar o projeto em Campo Grande, já que em Naviraí, interior do Estado, uma turma de 20 voluntários já foi formada. Eles atuam no hospital municipal da cidade.

“Já temos pedidos do asilo e de outros hospitais, mas por enquanto não temos muitos voluntários”, explica Claudia.

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silvana Jesus 20/02/2013

Um show de trabalho torço pra todos daí e torçam pra nós daqui

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Marcelo. S Souza 19/02/2013

Doutoras palhaças, vocês são muito bem vindas ao CETOHI, continuem seu trabalho voluntário cada vez mais com muita alegria e determinação , pois, vocês estão ajudando as crianças e nós médicos a melhorar nossos dias e nosso trabalho

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2 comentários

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