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Opinião Quarta-feira, 11 de Outubro de 2017, 13:30 - A | A

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Opinião

Não tenha medo! Blade Runner 2049 é sim um filmaço

Por Albano Pimenta*

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Sequência do clássico de 1982 diverte e é daqueles filmes que merecem ser vistos na telona

 

O que precisamos saber antes de assistir Blade Runner 2049? Tudo e nada. O filme lançado como uma sequência do filme de 1982, atende todas as expectativas daqueles que adoram - assim como eu - o filme do diretor Ridley Scott, mas ao mesmo tempo, pode ser uma experiência de um universo novo sem qualquer informação previa. É claro que se o espectador tiver a oportunidade de ver o filme de 1982 antes, conseguirá pescar suas referências e compreender melhor alguns detalhes daquele futuro distópico criado no século passado.

 

Divulgação

Albano Pimenta - Artigo

Albano Pimenta

Mesmo sob a perspectiva de outro diretor e aparentemente tudo conspirando para dar errado nesta produção, já que o filme original é um cult quase intocado (ironicamente tendo inúmeras versões como; a do cinema; a do estúdio e a do diretor – a minha favorita e acredito ser a definitiva) a sua “sequencia”, a meu ver foi um sucesso. O diretor atual, Denis Villeneuve (A Chegada - 2016) consegue manter a atmosfera cyberpunk criada no primeiro filme e ainda aprofunda elementos presentes no filme de Ridley Scott que tomou como referência a obra original do escritor Philip K. Dick intitulada originalmente como Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?

Neste filme de 2017 o Blade Runner conhecido como K ao abordar um replicante foragido descobre um mistério escondido a mais de 30 anos que poderia causar um grande colapso no que se refere a exploração dessa espécie de serviçais automatizados do futuro. Tal descoberta também é motor para as ambições do vilão industrial Niander Wallace vivido pelo ator Jared Leto – que assume os negócios de Tyrell, o antigo industrial e criador dos replicantes, inclusive os modelos NEXUS que começam a demonstrar traços de humanidade lá atrás, no filme de 1982. Wallace deseja encontrar o que K investiga para pesquisar e consequentemente evoluir seus replicantes.

Para não cair na temida zona de spoiler a história não limita-se a apenas uma trama de detetive. Como no anterior, o filme acaba por apresentar uma jornada existencialista de personagens que foram criados “sem almas”, como é mencionado no filme, sendo útil apenas para servir suas funções. Qualquer traço de desvio de conduta deles são motivos de encaminhamento a uma suposta aposentadoria, ou seja, eliminados sem piedade.

Ryan Gosling que vive o Replicante e Blade Runner K, repete sua atuação monocromática, assim como no aclamado e Drive de 2011.  Alguns podem até julgar o ator preguiçoso ou sem talento, mas aqui fica evidente que, a escolha do ator fora como uma jogada de xadrez empregada por Denis Villeneuve. Assim como a presença do antigo Blade Runner Rick Deckard vivido pelo sempre carismático Harrison Ford.

Diante dos fatos apresentados e das doses filosóficas que o filme traz, aliada a um ritmo de montagem contemplativa que preserva os lindos planos captados pelo renomado Diretor de Fotografia Roger Deakins (Que a cada filme vai superando suas impressões estética. Veja Onde os Fracos Não Tem Vez - 2007, 007 – Operação SkyFall - 2012, Um Sonho de Liberdade – 1994), combinada com a trilha do compositor “RockPopStar” dos cinema Hans Zimmer (responsável pela trilha de Dunkirk lançado este ano) e também a um Design de Produção impecável e, respeitoso em relação ao filme de 1982, só ajudam a melhorar a experiência cinematográfica.

É impossível sair da sessão e não lembrar daquele Blade Runner com o jovem Harrison Ford, mas não com ares de comparação e sim, com aquele gosto de algo complementar, adicional, enfim; o sabor que bons filmes deixam ao encerrar uma sessão. Tive esta mesma sensação, se comparamos sequencias de filmes dos anos 80 produzidos atualmente, com Mad Max: Estrada da Fúria. Outra sensação evidente foi que Blade Runner 2049, assim como Mad Max é um filme que foi produzido para ser visto no cinema.  

Agora, a pergunta que não quer calar: Rick Deckard é um replicante? No livro de Philip K. Dick  Rick Deckard não é um replicante. Harrison Ford também disse que entendeu seu personagem como um não replicante, mas Ridley Scott diz que em seu filme, Deckard era sim um replicante. Eu não acredito que Ridley Scott enganou Harrison Ford para obter uma interpretação mais humana de um personagem que seria um artificial. O senhor Ridley Scott não é tão genial assim.

No universo cinematográfico, responder esta pergunta é o mesmo que responder se Capitu traiu Bentinho no clássico Dom Casmurro e estragar toda a experiência que é reler ou rever uma obra e encontrar novos elementos que constroem esse mistério.

Lembrando que todos são fortes candidatos a indicações ao Oscar deste ano e que o filme está sendo exibido milagrosamente legendado no cinema de Dourados.

 

 

*Albano Pimenta

Publicitário, especialista em Semiótica, filmmaker, responsável pela Divisão de Audiovisual da UFGD. Cinéfilo e viciado em conteúdo audiovisual, desde séries a propaganda de margarina.

 

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