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Nacional Sexta-feira, 27 de Maio de 2016, 11:14 - A | A

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Brasil

‘Renan, o senhor dos anéis, deve ser afastado’, diz Delcídio sobre presidente do Senado

Em gravação, Renan Calheiros comentou processo de contra o então senador, admitindo que não havia indícios para cassar o mandato

Adriel Mattos
Capital News*

Jane de Araújo/Agência Senado

Em gravação, presidente do Senado orienta defesa de Delcídio em processo de cassação

Gravação entre Renan e suposto representante de Delcídio foi feita por delator da Operação Lava Jato

O ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) criticou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), após ele sugerir em uma gravação que Delcídio demonstrasse humildade no processo que cassou seu mandato no dia 10 de maio. Gravação veiculada pela TV Globo na quinta-feira (26) mostra Renan conversando com um suposto representante do ex-parlamentar.

Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha

Presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Delcídio disse que Renan deve ser afastado assim como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “O Renan, como o Eduardo Cunha, deve sair urgentemente. Ele deve cair. Renan é o senhor dos anéis, faz o que quer, manipula tudo, usurpa”, opinou.

Na conversa, gravada em fevereiro, o presidente do Senado diz a uma pessoa identificada como Vanderbergue que solicitou ao presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), peça diligências para demonstrar que o processo contra Delcídio está em andamento. “Falei agora com o João [Alberto, presidente do Conselho de Ética]. O João, ele fica lá ouvindo os caras... O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante”, falou.

Delcídio ficou indignado ao saber da gravação e acredita que o processo de cassação contra ele foi manipulado. “Ele [Renan] tinha medo da minha delação, ele tinha comprometimento com o Palácio do Planalto”, afirmou.

O ex-senador disse até conhecer Vanderbergue Machado. “Esse Vanderbergue é um cara que eu conheço há muito tempo. Ele é diretor da CBF, mas se criou sempre no PMDB. Começou como chefe de gabinete do Marco Maciel no Ministério da Educação e depois fez carreira no PMDB, especificamente com o Renan”, explicou.

A pedido do presidente do Senado, Vanderbergue monitorou Delcídio, e chegou a oferecer apoio ao então senador, sem saber que ele já havia iniciado delação premiada. “Achei estranho que ele ia ao meu gabinete aparentemente para prestar solidariedade, para me visitar, mas agora percebo que ele ia a mando do Renan para sondar, para saber se eu ia mesmo fazer delação premiada. A conversa gravada entre eles mostra que estavam mal informados. Pelo que vi, a conversa foi no dia 24 de março. Eu já havia fechado o acordo antes de ser solto em fevereiro. Vandenbergue sempre frequentava o meu gabinete, sempre uma relação boa, amistosa, mas o interesse dele era efetivamente me monitorar. Não só a mim como a minha família. A mando do Renan”, relatou.

Só mais tarde, o ex-senador percebeu o intuito das visitas de Vanderbergue. “Fomos perceber mais na frente um pouco que não era solidariedade do Vandenbergue, ele estava sendo mandado pelo Renan para me monitorar. Como eu tinha uma boa relação com o Vandenbergue me foi oferecido para minha defesa o filho dele, que é advogado. Ele se apresentou para advogar de graça para mim. Mas ele não é meu advogado”, explicou.

Para Delcídio, Renan tinha interesse que o mandato do então senador fosse cassado, chegando a comparar com Cunha. “Dentro dessas condições, como um Eduardo Cunha, ou seja, tendo todas as rédeas do processo para julgar alguém e usado os poderes que tem, ele [Renan] manipulou minha cassação. O diálogo [com Vandenbergue] só confirma que Renan, o senhor dos anéis, deve ser afastado imediatamente. Não tem mais condições de comandar o Senado”, opinou.

José Cruz/Agência Brasil

Dilma: ‘Foi necessária uma pessoa acusada de ter contas no exterior para perpetrar o golpe’

Presidente afastada Dilma Rousseff

O político avaliou ainda que Renan agiu para que a cassação fosse autorizada pelo plenário, assim como, segundo ele, Cunha manipulou para que o processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), fosse admitido. “Caracteriza uma ação forte dele [Renan] de manipulação, igual à que o Eduardo Cunha promoveu no processo da Dilma. Ficou muito claro que Renan controla a situação. O cara está usurpando de um espaço que ele tem dentro do Senado, usando a presidência para fazer o que quer”, justificou.

Delcídio disse que pretende usar o áudio para se defender contra a cassação. “Ele tinha compromissos com o Planalto, com senadores que se sentiam atingidos pela minha colaboração. Pensaram em me tirar o mais rápido possível e não deixar eu ir para o plenário. Não queriam que eu votasse o afastamento da Dilma. Essa fala dele no áudio demonstra nitidamente que ele tinha condições de manipular tudo. Esse áudio vai ser usado na minha defesa”, afirmou.

A gravação foi feita por Sérgio Machado, ex-presidente da Petrobras Transporte (Transpetro), subsidiária de processamento de gás natural da empresa estatal petrolífera Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). Ele teve um acordo de colaboração premiada homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira (25).

O ex-senador afirmou que citou a relação que o presidente do Senado e Machado tinham no acordo de colaboração premiada. “Se eu conheço um pouco o Sérgio Machado o que ele deve ter falado nos depoimentos da delação dele à Procuradoria é brincadeira. Dez anos de Transpetro é muita coisa. Na minha colaboração eu falei especificamente do Sérgio Machado na Transpetro e da proximidade dele com o Renan. Ele despachava com o Sérgio na residência oficial da Presidência do Senado. É muito grave esse cenário. É o caos”, explicou.

Marcos Oliveira/Agência Senado

Senador João Alberto Souza (PMDB-MA)

Senador João Alberto Souza (PMDB-MA)

Áudio
Na reportagem do Jornal Hoje de quinta-feira, o presidente do Senado diz a Vanderbergue que Delcídio deveria escrever uma carta mostrando humildade em meio ao processo de cassação. Renan chegou a admitir que não havia indícios suficientes para cassar o mandato do sul-mato-grossense.

 

Renan: O que que ele [Delcídio] tem que fazer... Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias... Família pagou... A mulher pagou...

 

Wanderberg: Ele [Delcídio] só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora.

 

Renan: Conselho de Ética. Falei agora com o João [Alberto, presidente do Conselho de Ética]. O João, ele fica lá ouvindo os caras... O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. 

Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado...

 

Wanderberg: [João Alberto] vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada...

 

 

Outro lado

Em nota, o gabinete de Renan Calheiros informou que o processo contra Delcídio foi acelerado e que não ficou paralisado no Conselho de Ética. “O senador [Renan Calheiros] lembra que acelerou o processo de cassação no plenário às vésperas da votação do impeachment. O desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais. Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou”, diz o texto.

 

Leia na íntegra a nota do gabinete de Renan Calheiros:

 

O Senador Renan Calheiros reitera que não tomou nenhuma iniciativa ou fez gestões para dificultar ou obstruir as investigações da operação Lava Jato, até porque elas são intocáveis e, por essa razão, não adianta o desespero de nenhum delator.

 

Quanto ao caso do ex-senador Delcídio do Amaral, o senador lembra que acelerou o processo de cassação no plenário às vésperas da votação do impeachment. O desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais. Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou.

 

O Senador não pode se responsabilizar por considerações de terceiros sobre pessoas, autoridades ou o quadro político nacional.

 

Reafirma ainda que suas opiniões sobre aprimoramentos de legislação foram e continuarão públicas. Não apenas ao tema mencionado nos diálogos, mas também na defesa de que a pena para delações não confirmadas sejam agravadas.

 

Assessoria de Imprensa

Presidência do Senado Federal

 

 

Moreira Mariz/Agência Senado

Após cassação de Delcídio, Pedro Chaves toma posse no Senado Federal

Senador Pedro Chaves (PSC-MS)

Caso

Delcídio foi preso em 25 de novembro de 2015, suspeito de atrapalhar as investigações da operação Lava Jato, que investiga um suposto esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ele foi flagrado oferecendo propina e um plano de fuga ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, para que ele não fizesse acordo de delação premiada com o Ministério Público.

 

O filho de Cerveró, para quem Delcídio fez a proposta, entregou um áudio da conversa às autoridades, o que provocou a prisão em flagrante do senador. Delcídio foi solto após 87 dias, em 18 de fevereiro. No dia 15 de março, o Supremo Tribunal Federal (STF) homologou seu acordo de colaboração premiada.

 

No dia 10 de maio, o Senado decidiu por 74 votos e uma abstenção cassar o mandato de Delcídio. Uma semana depois, o suplente Pedro Chaves (PSC) tomou posse na vaga e concluirá o mandato até 2019.

 

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*Com informações do jornal O Estado de S. Paulo, do portal G1 e da TV Globo

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