O ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) disse em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, na noite de segunda-feira (16), que não “bota a mão no fogo” pelo presidente da República em exercício, Michel Temer, quando questionado sobre o conhecimento dele no esquema de corrupção na estatal Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). “Não posso botar a mão no fogo, até porque não conheço bem as relações dele”, afirmou.
No acordo de colaboração premiada, o político disse que Temer teve participação direta na nomeação de executivos da Petrobras condenados na operação Lava Jato. “Quando disse que ele tinha indicado Zelada [Jorge Zelada, ex-diretor da área Internacional da Petrobras de 2008 a 2012, por indicação do PMDB], senti preocupação enorme numa resposta rápida dele [Temer]. Quando se indica alguém, não quer dizer que se indica para roubar”, explicou.
Ele esclareceu que a corrupção na estatal não começou pelo PT, mas que a legenda sistematizou a atuação partidária. “Desde outros presidentes aconteceram casos de corrupção dentro da Petrobras e de outras companhias. A diferença é que foi aí que começou a haver uma espécie de atuação sistêmica nas diretorias e atuações partidárias, que se criou um nível de operação muito mais amplo, concatenada, com o conhecimento das principais lideranças partidárias que compunham a base do governo federal. Isso é inegável”, afirmou o ex-senador.
Delcídio voltou a dizer que a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabiam o que acontecia na Petrobras. “O presidente da Petrobras sempre teve ligação direta com o presidente [da República]. Portanto dizer que não conhece e não participou das composições? Tenha paciência. É querer desqualificar ou achar que todo mundo é idiota”, reforçou.
Operação Lava Jato
O ex-senador afirmou novamente que o governo Dilma não acreditava que o Palácio do Planalto seria atingido pela operação Lava Jato, afetando apenas o Congresso Nacional. “Quando viram que a água estava batendo no pescoço, quiseram obstruir a Justiça”, acusou.
Delcídio lembrou que interviu com o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, para impedir um suposto acordo de colaboração premiada no âmbito da Lava Jato a pedido de Lula. “Ele [Lula] me disse: precisamos resolver essa questão”, afirmou.
Assim, o então líder do governo no Senado foi gravado pelo filho de Cerveró negociando uma suposta fuga para o ex-diretor. A gravação chegou à Polícia Federal (PF), que levou Delcídio a ser preso em 25 de novembro de 2015. “Acabei cometendo esse deslize e fui efetivamente denunciado por obstrução da Justiça. Quero destacar, é uma falha grave pela qual me desculpei, não deveria ter feito isso. Agora, não fui acusado por roubo, desvio de dinheiro, conta no exterior”, explicou.
O político esclareceu ainda que não se beneficiou do esquema, e com os depoimentos na operação, “passou a limpo” tudo o que foi dito sobre ele. “Não me beneficiei, isso ficou muito claro”, declarou.
Reprodução/TV Cultura
Ex-senador concedeu entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo
Impeachment
Para Delcídio, o Senado deve confirmar o afastamento definitivo de Dilma. Ele citou os 55 votos favoráveis à abertura do processo de impeachment, dizendo que “o placar pode se alargar”. “Ela [Dilma] perdeu inclusive as condições políticas de governar o país. Ela vai para aposentadoria”, afirmou.
Sobre o novo governo, o ex-senador avaliou que Temer tem “um grande desafio pela frente”, elogiando e até criticando o novo ministério. “Tínhamos um governo que não tinha política nenhuma e agora tem política demais. Alguns ministros são fraquinhos. [...] Temos que trabalhar para Temer dê certo, mas os primeiros passos preocupam muito. E ele não tem base nenhuma social. Não é fácil comandar um país complexo como o Brasil assim”, opinou.
Já sobre as eleições presidenciais de 2018, o político acredita que uma candidatura competitiva do PT “será muito difícil”, afirmando que Lula “sairá muito desgastado” e o PT, mesmo sendo “forte”, “perdeu muito do seu brilho”. A situação do presidente Lula é muito difícil, é crítica. [...] Acredito que o PT tem pessoas lúcidas que vão prevalecer, que são extremamente competentes”, disse.
Aécio, PMDB e desculpas
Delcídio voltou a apontar Aécio Neves, senador por Minas Gerais, presidente do PSDB e candidato à Presidência da República em 2014, como envolvido em esquema da corrupção da estatal elétrica Furnas. “Furnas não é simples de engavetar. [...] Não está difícil rastrear de onde vem, para onde vai e quem recebe [a propina]. As evidências são inapeláveis às questões colocadas no meu depoimento e que vão ser complementadas”, disse.
Quanto ao PMDB, o ex-senador disse que o partido teve uma "posição proeminente" em esquemas de corrupção nas empresas estatais. “Isso vai aparecer nitidamente”, enfatizou.
O político se emocionou quando lembrado da carta escrita pela filha, Maria Eduarda Amaral, e publicada nas redes sociais, onde ela lembra a família vinha “sofrendo com alguns obstáculos e dificuldades” desde 2014. “Me sinto responsável. [A carta] É um retrato do que nós vivenciamos. Não abdico. A responsabilidade foi minha. Ela tem toda razão”, confessou.
Outros lados
A presidente afastada Dilma Rousseff, o PT e o senador Aécio Neves ainda não posicionaram sobre a entrevista de Delcídio, mas já rebateram as afirmações do ex-senador anteriormente. O PMDB não comentou as acusações do ex-senador.
Em nota divulgada em março, o Palácio do Planalto informou que “volta novamente a fazer ataques mentirosos e sem qualquer base de realidade”, seguindo uma “estratégia de vingança contra todos os que não agiram para evitar que fosse mantido preso pela revelação de que tentava obstruir investigações que poderiam prejudicá-lo”.
O Instituto Lula informou em nota que Delcídio “voltou a mentir e fazer acusações falsas contra o ex-presidente”. Conforme o instituto, Lula “jamais conversou com Delcídio sobre ações para obstruir a Justiça ou sobre qualquer ato ilícito”.
Também em nota divulgada em março, Aécio disse que as alegações de Delcídio são “mentirosas, que não se sustentam na realidade e se referem apenas a ‘ouvir dizer’ de terceiros”. Disse que o ex-senador “repete o que vem sendo amplamente disseminado há anos pelo PT, que tenta criar falsas acusações envolvendo nomes da oposição” e que ele entra em contradição quando cita Aécio em relação ao caso que ficou conhecido como lista de Furnas.
Leia na íntegra a nota do Instituto Lula:
“Em entrevista ao programa Roda Viva nesta segunda-feira (16), o senador cassado Delcídio do Amaral voltou a mentir e fazer acusações falsas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente Lula jamais conversou com o Delcídio sobre ações para obstruir a Justiça ou sobre qualquer ato ilícito. Em depoimento à Procuradoria Geral da República, em 7 de abril, o ex-presidente Lula esclareceu os fatos e desmentiu o ex-senador.
Da mesma forma como procedeu em sua delação premiada – em troca de benefícios penais pelos crimes que confessou – Delcídio não apresentou aos jornalistas do Roda Viva qualquer prova, indício, evidência ou testemunho de suas ilações.
O senador cassado fugiu de todas as perguntas objetivas sobre o ex-presidente.
Lula tem 40 anos de vida pública e sempre agiu dentro da lei, antes, durante e depois de seu governo.”
Assista na íntegra a entrevista do ex-senador Delcídio do Amaral:
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*Com informações dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Zero Hora