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Segunda-feira, 28 de Junho de 2010, 08h:12

Circenses mostram bastidores de vida cigana

Ana Maria Assis - Capital News (www.capitalnews.com.br)

Monta, desmonta. Fica e vai embora. Trabalho e diversão. No circo tudo é mistura, conjunto, magia e técnica. Enquanto as estrelas do espetáculo brilham no picadeiro, nos bastidores outra equipe se prepara para entrar em ação. O público apenas aguarda, na expectativa de dar boas risadas, de ser surpreendido, envolvido e de viajar para outro mundo. Um mundo do show, da ilusão, da arte, do colorido, da iluminação e do mistério das cortinas.

O circo é arte livre por envolver outras atividades artísticas como a interpretação que remete ao teatro, a musicalidade, as coreografias, a postura que vem da dança e, ainda, muitos trabalhos corporais que fazem dele quase um esporte, como a ginástica olímpica talvez. Quem sabe seja esse o segredo para despertar tanta paixão naqueles que um dia, com o intuito primário de apenas ajudar na montagem do circo que estacionava em sua região, deixou a sua cidade seguindo a trupe. Um caminho de surpresas, como no próprio espetáculo circense, a vida no circo é “marmelada”, é “goiabada” é “palhaçada”, “sim senhor”.

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"Torço" foi ajudar a desmontagem do circo há 15 anos e está juntop com a trupe até hoje
Foto: Deurico/Capital news

Essa história de ajudar o circo a ser montado e acabar pegando uma carona com a trupe, e mergulhando nessa “vida cigana”, aconteceu com Pedro Luiz de Oliveira, ou Torço, como é chamado o palhaço que ele interpreta. Quando perguntamos o nome de Pedro, logo responde: “Eu sou o Torço”. Fica nítida a linha estreita em que os artistas por vezes pisam quando o assunto é a distância entre fantasia e realidade. Pedro conta ao Capital News que não conheceu sua família e ainda não constituiu uma. O circo é sua família, sua morada, seu lazer e seu trabalho.

Ele é um dos artistas do Circo do Beto Carrero, que está em Campo Grande até o dia 1º de agosto. Pedro tem 38 anos e foi criado em um orfanato, e quando de lá saiu trabalhou em uma fábrica de colchões. Mas, no dia em que o circo passou por São Paulo, quando tinha 23 anos, a vida de Pedro mudou de rumo. “Conheci o circo. Ajudei na desmontagem e fiquei com eles”. E ficou sem vontade de voltar. Nascido em Campo Limpo, no estado de São Paulo, Pedro estava morando na capital paulista quando deixou a “vida de cidade”, que para ele não deixou saudades. “Eu não sinto falta. Com o circo, você viaja, conhece vários lugares.”

Pedro conta que já trabalhou em vários circos, mas que foi esse o que melhor lhe acolheu. Torço também lembra de quando atuou preso ao centro do alvo do atirador de facas. “A pessoa tem que ter muita coragem. Mas ‘pra’ ser alguém na vida também é preciso ter coragem”, fala Torço que gosta do público infantil, pois diz que “os grandes não vão ao circo por causa dos palhaços”.

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Peru já viajou pela América Latina inteira e atualmente é o responsável pela montagem do Circo do Beto Carrero
Foto: Deurico/Capital news

E Torço não é o único a ajudar na desmontagem. Guilherme David Cavero, ou Peru – pois só assim é chamado pela trupe –, é responsável pela segurança da estrutura do circo. O que ele nos conta é capaz de explicar o primeiro contato de Torço com o circo. Isso por que Peru diz que o circo possui uma equipe de cerca de 10 pessoas para montar o teatro de lona, mas que em cada cidade que chegam, contratam temporariamente cerca de 40 moradores para ajudar no trabalho.

Nascido no Peru, fato que deu origem ao apelido, Guilherme tem o sotaque latino de uma mistura indistinguível. Isso porque Ele nasceu no circo e viveu viajando em contato com línguas e culturas diferentes durante a sua formação. Os pais e avós de Peru também são “de circo”, mas ele não convive mais com eles. Ele conta que ama o circo e que sua única preocupação nesta vida é com a segurança do público. “Férias? Si...Si”, Peru chama de férias as longas temporadas em que o circo fica em uma só cidade. “Eu gosto disso. Gosto de fazer novas amizades e ir para novos lugares. Conheço o México, Peru, América Latina inteira, e estou há 12 anos no Brasil, que tem cidades muito lindas”. E quando o Capital News pergunta onde está a alegria do circo, Peru não pensa duas vezes e aponta para as crianças: “Está aí, na risada deles”.

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Rafael mora no circo com o irmão, que trabalha com ele no picadeiro, com a mãe que é cozinheira do circo e com o pai que é soldador
Foto: Deurico/Capital news

Com tanta polêmica girando em torno da extinção do circo, da questão de que o picadeiro pode não mais atrair esta geração em que as crianças são deixadas pelos pais, sozinhas em casa jogando videogame ou navegando na internet, ainda assim o circo sobrevive de ano em ano, década a década. E é possível sugerir que viverá ainda mais. Um exemplo disso é que os mais velhos continuam ensinando aos mais novos a arte do circo, onde sobrevivem famílias inteiras como a de Rafael Soares da Mota. O “Rafinha”, como é chamado, tem 18 anos e participa do número do chicote com seu irmão conhecido por “Jasper”. Rafael conta que está aprendendo “Globo da Morte” e trapézio, e que no circo, acontece o que deveria ocorrer na cidade: os mais novos têm a paciência de escutar os mais experientes e aprender com eles a profissão do picadeiro.

Quando o artista envelhece e não está mais apto para assumir papéis importantes no picadeiro, no circo, ele nunca perde sua importância. Além de ensinar os seus sucessores, assumem outras funções nos bastidores do teatro de lona. Para as mulheres tem a cozinha, a costura; para os homens a solda, a montagem. Esses corajosos, sonhadores, artistas, ginastas, músicos, poetas, atores da vida chamam as pessoas que moram em um lugar só, e que apenas têm contato com o circo quando sentam na plateia, de “gente da cidade”.

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"A alegria do circo? Está aí, no sorriso das crianças", afirma Peru e Torço
Foto: Deurico/Capital news

Para a “gente da cidade” a vida no circo pode parecer aventura em demasiado, ou algo incerto, perigoso. Enquanto isso, só a “gente do circo” é capaz de entender o que é viver a própria profissão, colocando paixão em cada espetáculo, que reflete em uma gargalhada, em um sorriso de qualquer “gente da cidade”.


Por: Ana Maria Assis - (www.capitalnews.com.br)

 

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 Imagem do Dia - 28/06/2010 - 08:10
  Circo do Beto Carrero está em Campo Grande

 

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