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ENTREVISTA Terça-feira, 14 de Julho de 2015, 09:31 - A | A

Terça-feira, 14 de Julho de 2015, 09h:31 - A | A

Entrevista

Santa Casa busca manter excelência e investir para melhorar atendimento

Hospital faz convênio com Energisa para doações descontadas por meio da conta de luz

Alberto Gonçalves
Capital News

Deurico/Capital News

Wilson Teslenco - Santa Casa

Wilson Teslenco, presidente da ABCG - Associação beneficente Campo Grande, responsável pela gestão da Santa Casa de Campo Grande

A Santa Casa de Campo Grande é atualmente o maior hospital de Mato Grosso do Sul e presta serviço de assistência à comunidade, atendendo a Capital, pacientes dos 77 municípios do Estado, além de pessoas de outros Estados e até mesmo de países vizinhos, como Bolívia e Paraguai.


A instituição hospitalar ficou um período sobre intervenção, mas recentemente a entidade mantenedora do hospital reassumiu o comando. O Capital News ouviu o presidente da Associação Beneficente Campo Grande (ABCG), Wilson Teslenco, responsável pela administração do centro médico, para saber a atual situação.


Teslenco comenta que o hospital vem realizando investimentos na infraestrutura, principalmente para dar maior comodidade aos pacientes, mas que isso demanda de liberação de verbas do Ministério da Saúde. Além disso, lembra que a Santa Casa tem um serviço de excelência em todas as especialidades.


Uma das formas de melhor garantir o atendimento será incrementar o atendimento de convênio, que irá subsidiar os procedimentos públicos.


Capital News – Por muito tempo Santa Casa, em várias cidades por todo o país, foi sinônimo de qualidade no atendimento para todo cidadão. Hoje como está essa situação, mudou ou ainda é referência de atendimento à população?


Wilson Teslenco – A Santa Casa aqui em Campo Grande ainda é sinônimo de resolutividade, onde as coisas são resolvidas e com rapidez, principalmente no que tange a urgência e emergência. A Santa Casa é o hospital mais completo do Estado. É um hospital que consegue resolver todas as situações que são demandas e solicitadas, e é um centro médico de ‘porta aberta’. Ainda é o hospital que recebe todos que batem na porta, independente por onde foram enviados, de onde veio, qual condição social. Então a Santa Casa é sinônimo de quem faz muito, e faz num custo muito baixo. Ela tem resolutividade, produção e eficiência econômica no trabalho que ela faz.

 

Capital News – Alguns hospitais particulares muitas vezes se parecem com hotéis luxuosos e devem dar lucro aos proprietários. Mas a Santa Casa sempre vive com problemas financeiros. O que acontece para essa diferença de situação?

Deurico/Capital News

Wilson Teslenco - Santa Casa

Wilson Teslenco, presidente da ABCG - Associação beneficente Campo Grande, responsável pela gestão da Santa Casa de Campo Grande


Wilson Teslenco – Como a Santa Casa é primeiramente um hospital de porta aberta, atende a todos que entram aqui e que tem uma utilização muito pesada, por parte da urgência e emergência, então, isso significa que somos todos os dias surpreendidos pelas mais variadas necessidades de assistência à saúde. E por ter um relacionamento com o gestor público baseado no princípio de que o hospital tem de estar sempre trabalhando no prejuízo, isso cria dificuldades para que o hospital possa fazer os investimentos necessários de ter o que no meio se chama uma ‘hotelaria’ mais elaborada. A Santa Casa trabalha para reverter essa situação, melhorar essa hotelaria, fazendo através de projetos no Ministério da Saúde. Existe um convênio assinado para investimento de R$ 11 milhões na reforma do prédio, mais R$ 7 milhões em equipamentos. Estamos com o convênio já assinado e agora brigamos para a liberação do recurso.


Por outro lado nós entendemos que precisamos ampliar, e estamos trabalhando nesse sentido com a reforma do Prontomed, a participação dos convênios particulares, que deixam investimentos no hospital para fazer os investimentos que melhoram a instalação para todos os usuários.


Capital News – Na prática, a Santa Casa sobrevive de que, somente de verba pública?


Wilson Teslenco – Não. Ela tem hoje 10% da receita de convênios particulares, e o restante são recursos do contrato que a Santa Casa tem com o poder público. Nós temos um atendimento em torno de 95% pelo SUS e temos de 5 a 6% de atendimento privado. Mas observe que apesar de o atendimento privado ser de 5%, as receitas chegam a 10%. E essas receitas ajudam a financiar a assistência feita no SUS.


Capital News – Qual a solução para terminar com esse problema financeiro e a Santa Casa voltar a ser o que a população espera?


Wilson Teslenco – A Santa Casa precisa de uma relação equilibrada e justa com o poder público que contrata o seu serviço. Ela não pode, digamos assim, vender o seu serviço de forma deficitária. Ela precisa que os valores contratados sejam reajustados anualmente, a partir de uma perda inflacionária, que todos admitem que exista em suas vidas pessoais. No segmento saúde, o gestor que contrata os serviços das entidades filantrópicas, ele entende que não existe inflação na saúde. Assim, os hospitais em contratos de cinco anos, acabam amargando prejuízos, déficits sucessivos, que afastam de sua condição de excelência, na medida em que faltam dinheiro para investimentos. Então, o que nós pleiteamos junto ao município e ao Estado é um contrato equilibrado.


Um contrato que preserve a capacidade do hospital de fazer o que sabe fazer muito bem e de forma eficiente. O fato de você ser filantrópico, não ser lucrativo, não acabe sendo uma célula que dê prejuízo. Até porque esse é um patrimônio construído pela sociedade ao longo de muito tempo e não pode se perder por meio de uma política de saúde equivocada.


Tem algo que digo sempre: O paciente atendido pela Santa Casa ou hospitais filantrópicos, chegam a custar a metade do preço daquele atendido na rede pública direta. Por exemplo, o custo médio do paciente da Santa Casa é 50% inferior ao custo médio do paciente do Hospital Regional.


Capital News – E por que isso acontece?

Deurico/Capital News

Wilson Teslenco - Santa Casa

Wilson Teslenco, presidente da ABCG - Associação beneficente Campo Grande, responsável pela gestão da Santa Casa de Campo Grande


Wilson Teslenco – Eu também gostaria de saber? Uma é pelo subfinanciamento do contrato. A outra é pela característica do Estado enquanto empreendedor em qualquer área. Isso faz com que nem sempre você possa ter aqui as melhores instalações. Agora, o que a Santa Casa tem é a estrutura mais organizada, no aspecto de que você tem todas as especialidades à disposição, de plantão dentro do Estado. Talvez seja o único lugar do Estado que você possa ter uma grade completa de especialistas de plantão 24 horas.


Capital News – Pelo o que o senhor diz, parece que a contrapartida não existe. Afinal tudo o que acontece em termos de socorro, o local de destino é a Santa Casa?


Wilson Teslenco – Com isso você demanda de forma exagerada o hospital. Aí você tem momento em que o hospital é obrigado a dizer: Preenchemos todos os leitos de UTI. Não tenho como colocar uma UTI no corredor. Então você fica limitado e a sociedade fala: mas como não? Está tudo cheio, tudo ocupado.


Capital News – Por que algumas pessoas optam por ir a grandes centros, como São Paulo, em vez de procurar o atendimento na Santa Casa, à vezes até por defensores diretos da instituição?


Wilson Teslenco – Existe uma realidade aqui em Campo Grande e no Estado que é, se você tiver uma urgência/emergência, você não tem alternativa. Primeiro vem à Santa Casa, depois você pode ir para qualquer lugar do mundo. Depois que estiver estabilizado, estruturado, você pode ir para outro lugar.


O caso, por exemplo, do Luciano Hulk, o diagnóstico feito na Santa Casa de Campo Grande, foi confirmado no hospital Alberto Einstein, em São Paulo. O Einstein não descobriu algo que a Santa Casa não havia indicado, só confirmou o diagnóstico daqui. Então, você tem um centro de excelência, você tem um hospital com uma equipe muito boa e que consegue responder rapidamente nessas situações.


Ao ser utilizado no limite de sua capacidade, nem sempre consegue responsável por tudo o que acontece no Estado. Isso muitas vezes pesa contra nós por não conseguirmos fazer tudo. Só que você está limitado a uma capacidade física da instalação de atender uma quantidade de pessoas e de realizar procedimentos.


Capital News – O senhor acredita que exista um déficit de hospitais em Campo Grande e isso sobrecarregue ainda mais a Santa Casa?

Deurico/Capital News

Wilson Teslenco - Santa Casa

Wilson Teslenco, presidente da ABCG - Associação beneficente Campo Grande, responsável pela gestão da Santa Casa de Campo Grande


Wilson Teslenco – Acredito que haja um déficit de leitos no Estado como um todo. Essa situação precisa ser mapeada, para saber em que segmentos esses leitos seriam importantes. Isso é algo que o poder público tem de fazer. Há problemas principalmente na rede de urgência e emergência nos momentos de pico de demanda. Você tem uma capacidade instalada, mas tem aquela semana em que tudo acontece, e aí as pessoas sofrem com a falta de estrutura para serem atendidas. A demanda seria uma rede de urgência e emergência maior para atender a solicitação.


Capital News – Em termos de ocorrência como o senhor classifica a demanda pela procura?


Wilson Teslenco – Entendo que a grande pressão vem do trauma. Tanto que tenho declarado que antes de fazer o investimento em ampliação da rede de atendimento de urgência, precisamos fazer investimento para tentar eliminar a demanda que não precisaria existir. Exemplificando, as pessoas têm problemas cardíacos e pouco pode ser feito para evitar diretamente ou, as doenças da idade, da velhice, são inevitáveis. Agora existe um volume grande de demanda evitável, que são as demandas do trauma. Ou seja, quando você elimina os problemas de trânsito, de violência, você alivia a estrutura hospitalar e ela consegue atender melhor aquelas pessoas que se enquadram na demanda inevitável. É algo que é preciso estar atento para reduzir essa pressão e assim, os recursos utilizados na saúde sejam mais bem aproveitado e a sociedade toda vai ganhar com isso.


Capital News – Em termos de pediatria, a criança passa mal, onde levar?


Wilson Teslenco – Para a Santa Casa. Aqui nós temos uma estrutura para isso. A cidade também tem agora o Centro Pediátrico, que reduziu de certa forma a demanda no atendimento de urgência em pediatria na Santa Casa. Mas nós temos um andar inteiro de pediatria, temos UTI pediátrica e congênita. Somos referência em cirurgia cardíaca congênita de criança, inclusive neonatal. Há uma demanda grande, mas não consigo ver uma pressão tão grande, quanto tem a demanda adulta, principalmente motivada pelo trauma.


Capital News – O que ainda é preciso para que a Santa Casa fique do seu gosto ou como realmente tem de ser no atendimento, em equipamentos, mão de obra?


Wilson Teslenco – Para ficar do gosto do nosso povo, da necessidade das pessoas, do padrão imposto pelo Ministério da Saúde, o que falta para a Santa Casa é um relacionamento mais proativo junto com o gestor. A relação nossa com os gestores da saúde do Estado e do município ainda é tumultuada.  Ainda não é uma relação de ganha ganha, é uma relação de desconfiança. Nós entendemos que isso precisa crescer e melhorar. Precisamos de um financiamento adequado para cumprir os compromissos do hospital. Precisamos de uma rede melhor estruturada, uma regulação mais organizada. Uma regulação que envie para a Santa Casa, os pacientes que realmente são para a Santa Casa.

 

Precisamos que, quando um paciente veio para cá receber o primeiro atendimento, mas ele não é um paciente da especialidade da Santa Casa, necessitamos de condição para encaminhar a um hospital que é especialista naquele caso aqui no Estado ou na cidade. Precisamos então que a rede melhore esse processo, estabeleça melhor o protocolo de operação e funcionamento do hospital.


Precisamos implementar uma gestão baseada em um conceito de hospital privado. Apesar de ser hospital filantrópico, sem fins lucrativos, a gestão precisa gerar receita, resultado positivo para poder investir. Se ela não investir, não melhora assistência, estrutura física. Existem ainda muitas coisas a serem implementadas, muitas frentes para serem atuadas. Mas diria que nesses últimos dois anos, o hospital caminhou no sentido de equacionar as suas contas e se posicionar em relação a isso, fazer investimento na qualidade da assistência. Tivemos vários ganhos para o usuário que está na Santa Casa demandando serviços.


Capital News – Em termos de remuneração profissional, a Santa Casa é atrativa?

Deurico/Capital News

Wilson Teslenco - Santa Casa

Wilson Teslenco, presidente da ABCG - Associação beneficente Campo Grande, responsável pela gestão da Santa Casa de Campo Grande


Wilson Teslenco – A Santa Casa tem um volume muito grande para experiência. Nossa faixa salarial, por exemplo, da enfermagem, temos o cuidado de estarmos entre os melhores valores do mercado. Para os médicos há negociações com os vários setores de especialidades de atuação na Santa Casa. Tentamos fazer um remuneração que esteja atrelada à realidade do hospital, sempre lembro que aqui não é o Sírio Libanês de São Paulo. Aqui é a Santa Casa, um hospital que tem dificuldades, tem volume e busca a excelência. Estamos num processo de implementação do programa de qualidade, buscando uma certificação, que tende a trazer qualidade para essa assistência e, nós queremos trazer os profissionais para que façam isso acontecer e seja um sucesso.


Capital News – Algumas entidades recebem doações, tanto de pessoas físicas como jurídicas, a Santa Casa tem esse trabalho de doações?


Wilson Teslenco – A Santa Casa recebe doações pontuais de alguns empresários. Recentemente o senhor Ueze Zahran doou gerador bastante potente para o hospital. Nós estamos agora implantando um programa para captação de recursos, por meio de um convênio com a Energisa, onde as pessoas poderão fazer doações para a Santa Casa debitadas na conta de luz. Recebemos também doações eventuais de outras entidades, o Rotary já esteve nos ajudando e outras avaliam propostas do hospital para contribuírem para alguns investimentos que precisam ser feitos.


Capital News – Em relação ao Ministério da Saúde, como está essa relação com a Santa Casa sobre equipamentos e investimentos?


 Wilson Teslenco – Nós estamos num momento ruim. Temos vários projetos aprovados no ministério, convênio e contrato de obra assinados, e o recurso não sai. Estamos nesse momento executando esse convênio da reforma do prédio de R$ 11 milhões. Nós tínhamos R$ 500 mil liberado e nos disseram ‘gaste os quinhentos e depois conversamos’. Então iniciamos para fazer os R$ 500 mil e a obra está em andamento.


Vejo a dificuldade de transformar empenho, valor assinado, em recursos na conta para o investimento. Anualmente novos projetos são apresentados, novos convênios são assinados, mas a liberação dos recursos ficam muito distantes da assinatura dos convênios.


Capital News – Em quanto tempo a população terá o hospital que merece e precisa?


Wilson Teslenco – Acho que a população tem um hospital fabuloso, mas acho que ela precisa de um hospital com acomodações melhores. Esse prédio da Santa Casa tem 30 anos e nunca passou por uma reforma. Imagino que no atual cenário, não espero que o Ministério da Saúde libere recursos este ano. Acho que assim 2015 foi e, poderemos ter investimentos a partir de 2016. Imagino que dentro de uns dois anos tenhamos um hospital melhor do que temos hoje.


Embora o hospital que a população mereça seja difícil de alcançar. Sempre que a gente avançar, vamos olhar e verificar que tem algo a ser feito. As pessoas precisam ter acesso ao melhor que existe em termos de tecnologia e a função da Santa Casa, enquanto entidade filantrópica que nasceu para fazer um papel à frente do poder público é trazer o que tem de última tecnologia e, dessa forma você leve o Estado a fazer igual. Assim tão cedo não teremos o que merece, teremos algo melhor. Estamos fazendo pequenos investimentos para melhorar e isso nunca vai parar.

Deurico/Capital News

Wilson Teslenco - Santa Casa

Entrada principal da Santa Casa de Campo Grande


Alguns dados referentes à Santa Casa:

Pronto-socorro adulto - 3.671 atendimentos média/mês

Pronto-socorro pediatria - 716 atendimentos média/mês

Maternidade 453 - atendimentos média/mês 

 Ambulatório Geral - 4.100 atendimentos média/mês

Ambulatório ortopedia - 1.450 atendimentos média/mês
Cirurgias - 2.500 média/mês

Cirurgias ortopedia - 1.200 média/mês

 Internação - 2.100 média/mês

Permanência – cinco dias em média

 Funcionários:

Administrativo – 315 trabalhadores

Apoio – 591 trabalhadores

Enfermagem - 1.255 enfermeiros

Médico - 213 profissionais

Profissional Saúde – 245 trabalhadores

Total - 2.619 pessoas trabalhando

Conforme cadastro no CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério de Saúde, a Santa Casa possui:

Leitos de Internação - 464 (SUS) e 83 (Convênio médico)

UTI adulto - 57 (SUS) e 2 (Convênio)

UTI Pediátrico - 10 (SUS) e 4 (Convênio)

UTI Neonatal - 8 (SUS)

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