Edilson Rodrigues/Agência Senado
Senado aprovou medida provisória que reforma ensino médio nesta quarta (8)
A aprovação da medida provisória responsável pela reforma do ensino médio tem gerado discussões quanto ao futuro da educação no Brasil. Nesta quarta-feira (8), o Senado Federal aprovou por 43 votos a favor e 13 contrários o texto, que segue agora para sanção do presidente Michel Temer (PMDB).
Entre as mudanças, estão o aumento da carga horária, a escolha do aluno pela área de estudo que o interesse entre cinco itinerários formativos – inclusive, formação técnica para ingresso no mercado de trabalho –, contratação de profissionais para dar aula mesmo não sendo professores, dentre outras.
Com tantas medidas que impactam na formação do aluno, há os que estão receosos, como o presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Roberto Botareli, que declarou que a entidade é “totalmente contrária”. Para ele, a oferta da formação técnica criará mão de obra barata. “O governo quer técnicos, não profissionais, a reforma ao invés de contribuir com a formação do aluno vem na contramão da história, o que está sendo proposto é a tentativa de criar mão de obra barata para suprir o mercado”, explica.
Ainda, os adolescentes serão obrigados a decidir precocemente qual carreira querem seguir. Botareli explica que, nesta fase, a maioria não sabe o quer. Outra crítica é quanto à contratação de profissionais de "notório saber" para ministrar aulas. Para Botareli, professores devem ensinar porque tem a formação para tanto, que vai além de trabalhar o conteúdo. Além disto, o profissional irá receber o mesmo salário de um professor, mesmo sem ter licenciatura.
Botareli diz que a medida foi aprovada sem discussões com a sociedade, sindicatos, professores e alunos – os principais atingidos pela reforma. Ele citou que o senador Pedro Chaves (PSC-MS), relator da medida, realizou uma audiência com a Fetems e acatou as sugestões propostas. No entanto, na hora de entregar o texto final, elas foram retiradas.
Outro lado
Ao Capital News, o senador Pedro Chaves disse que a “juventude de hoje tem maturidade” para escolher o que quer. Mas, mesmo que haja dúvidas, ele garantiu que o aluno poderá trocar a área assim como no curso superior. “A ideia da reforma é o aluno ser o protagonista da sua formação”, disse.
Questionado se as escolas possuem estrutura para receber as mudanças, o senador admitiu que "muitas precisam de reformas". Todavia, disse que o Governo Federal está “disposto a ajudar” e que no próximo ano, repassará recursos de R$1,5 bilhão para as instituições. Com a reforma, a prioridade do investimento são as com maior vulnerabilidade social. Para as escolas integrais de Mato Grosso do Sul, Chaves disse que a União repassará R$ 8 milhões.
Quanto à formação técnica, segundo o senador, as escolas vão selecionar cursos de acordo a atividade econômica da região. Como exemplos, Chaves citou Três Lagoas, que teria como foco a indústria; Corumbá, a mineração; e Dourados, a agropecuária.
Chaves disse ainda que antes da aprovação do texto, havia um projeto na Câmara Federal desde 2012 que teria sido discutido “exaustivamente”. O governo Temer teria aproveitado 70% dele transformando-o na medida provisória, segundo o senador, para ter 120 dias para “terminar o projeto, caso não, não termina nunca”.
Divulgação/Senado Federal
Entenda as mudanças
Hoje, o ensino médio tem 800 horas anuais. Com a reforma, em cinco anos, todas as escolas deverão ter mil horas. A meta é atingir 1.400 horas, ainda sem prazo definido. O currículo será composto pela Base Nacional Comum Curricular, que será obrigatória para todos os alunos com as disciplinas de matemática, português, educação física, arte, sociologia e filosofia.
Ainda, o currículo será formado por mais cinco itinerários, que são as áreas do conhecimento – onde o aluno deverá escolher a que deseja se “especializar”: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
A Base Nacional Curricular Comum corresponderá a 60% do currículo. Já os outros 40% serão de escolha das escolas, com base nos cinco itinerários formativos. A escolha pelo campo de estudo poderá ser feita no início do ensino médio. Conforme Chaves, será possível cursar mais de um itinerário, de forma consecutiva e se houver vaga.
Ainda, profissionais com notório saber na matéria poderão ser contratados pelas escolas, mesmo que não tenham formação acadêmica específica para dar aulas.
Conforme Chaves, no perído vespertino, a ideia é que as escolas busquem bibliotecas e museus, por exemplo, para complementar a formação dos alunos. “Toda experiência é de aprendizado, a escola planeja oferecer atividades da tarde para complementar a da manhã”, disse.